Chegámos ao Alive eram sete e pouco, ainda a tempo de apanhar uns acordes dos Asterisco Cardinal Bomba Caveira. Vimos um Alive cheio de gente de roupas curtas e óculos de sol. Um Alive pintado com a luz de Algés e com o rio lá a descansar em plano de fundo. Àquela hora estava quase a começar aquele que era para nós uma das possíveis grandes actuações da noite. Não olhamos bem sequer para quem tocava no palco principal, apanhámos uma sangria, ouvimos o que conseguimos do Manuel Fúria e pirámo-nos para James Blake.

E lá atravessámos a zona de comidas na pressa de chegar ao palco secundário para ouvir os temas de um dos melhores discos do ano. Muita gente sentada, alguma gente em pé, facilidade em chegar à frente… Afinal, a noite hoje era de outra banda. Mas Blake lá começou a tocar, acompanhado de baterista e guitarrista. O artista deu-nos o que queríamos. Um concerto emotivo, samplagem rica de voz, loops em cascata e sub-graves que se espalharam pelo Tejo inteiro e fizeram tremer uma audiência que foi crescendo.

Apesar de não ser música de festival, de precisar de um espaço mais intimista e de umas colunas mais amigas das linhas electrónicas mais graves, a verdade é que James Blake ficou surpreendido com o público, que soube acompanhar as letras, que pediu mais. Momentos altos claro, as músicas “Limit do Your Love”, “Wilhelms Scream” e “Lindesfarne”, sabidos na ponta da língua, mesmo quando os ritmos pareciam atropelar as palavras.

A electrónica de James Blake (adaptada ao formato ao vivo, mais aguerrida e viva) causa estranheza, custa a entrar, mas cativou, fez dançar, fez arrancar a noite que se foi pondo a pouco e pouco. E dali seguimos para perto da Amor Fúria, na altura com os Smix Smox Smux a tocar para quem resistia a Blondie e… ao jantar. Com a Debbie Harry a cantar “Heart of Glass” no palco principal, carregando a custo as memórias de um passado em glória, atacámos uma das roulotes para comer qualquer coisa enquanto a Anna Calvi começava a cantar a “Jezebel” e a tocar guitarra como gente grande, confirmando que vai muito além do hype britânico.

E ali começou. A grande migração. Os palcos secundários começaram a esvaziar-se, as mesas ficaram vazias e o fim do mundo chegou àquele lado do recinto. Tempo de voltar ao palco da Amor Fúria, onde tocaram os Velhos. Tocaram bem, mas tocaram para pouca gente, com o baixista d’Os Salto literalmente… aos saltos com mais 50 pessoas.

E lá começou, o que todos, pais, filhos, irmãs e irmãos esperavam: Chris Martin e os seus Coldplay. Música atrás de música, hit após hit, toda a gente cantou, toda a gente sabia aquelas músicas tocadas vezes sem conta até ao limiar da exaustão em todas as rádios, televisões e leitores de mp3. Tudo muito giro até este senhor dizer “I’m not sure in which city we’re in, but I know it’s Portugal”. E ali se viu a força de uma lotação esgotada, de 50 mil pessoas especadas a olhar para um cantor que não sabia em que cidade estava. Confettis, fogo de artifício, balões gigantes, tudo foi feito para acabar em beleza a grande encenação, que não deixou de ser um bom espectáculo, planeado ao pormenor.

A partir dali o êxodo foi outro, de pessoas que queriam ir para casa porque o dia seguinte era de trabalho, de pessoas que queria ver Os Salto ou ainda apanhar um Patrick Wolf que começou a cantar “Yellow” (dos vizinhos Coldplay) feito vendedor ambulante, golpe que acabou por resultar. A noite acabou com o live act de Example, o projecto que anda aí a bater os tops todos do Reino Unido e que pôs toda a gente a bater o pé como deve ser.

Hoje espera-se nova enchente para celebrar o rock dos Foo Fighters e do imortal Iggy Pop, as incursões electrónicas de Kele (ex-Block Party), os ritmos de dança dos DJ’s da Enchufada, Diplo ou a ferocidade maximal dos repetentes Bloody Beetroots Death Crew 77.

Texto: Miguel Leite e Pedro Lima
Fotografia: André Granada (iphone)

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