E tudo começou com Friendly Fires, às 18h. Ingleses do dance punk, a fazer lembrar !!!, comandados por um Ed Macfarlane louco, no bom sentido, que se atirou duas vezes para o meio do público e que não parou de dançar ao som de temas como “Skeleton Boy”, “Paris” ou “Kiss Of Life”. Como era dia de Dim Mak e de electrónica e lá fomos ver os bigodaças Mustard Pimp a passar temas do electro ao techno.

Hora para comer qualquer coisa rápida, antes de entrarem em palco os Simon And Garfunkel do século XXI: Fleet Foxes. E lá entraram, e lá fizeram o que tinham a fazer perante um palco secundário a abarrotar, com dezenas a saber as letras de “White Winter Hymnal” ou “He Doesn’t Know Why”.

Da folk de Seattle fizemos algum tempo e passámos para aquilo a que muitos gostam de chamar hardcore digital, dos Atari Teenage Riot (ATR). Não pode haver mudança mais radical, do 8 para 80, do branco para o negro. Da calma, serenidade, para os berros, a revolta, agressividade, a libertação.

Aqui vale a pena explicar quem é que são os ATR. Banda de Berlim, apareceu em 1992, num contexto em que alguns músicos da techno music alemã se associavam a movimentos neonazis. Apareceram para, literalmente, darem um berro anti-nazi. Lançaram o álbum “Hetzjagd Auf Nazis” (“Cacem os Nazis”) e por ali andaram, no hardstyle, no punk, nos berros,  nas raves, no tempo do ecstasy e dos glowing sticks. Eram os noventa, em Berlim, e eram concertos que nunca acabavam sem polícia, pancada, violência. A banda acabou e voltou em 2010, depois de ter influenciado grupos como Crystal Castles ou Kap Bambino, e tocou ontem no Alive perante um público português, cheio de miúdos com camisolas da billabong e paez nos pés, mas que perceberam a ideia e lá andar aos empurrões ao som de “Activate” e “Blood in my eyes”.

Voltámos então a mais um “swing” de sentimentos e fomos para o dub e trip pop de Thievery Corporation. Que fizeram uma brincadeira que aparentemente poucos perceberam (ou poucos acharam piada) que foi por as letras “IMF” (“FMI”) nos ecrãs gigantes, fazendo referência Fundo Monetário Internacional. Enquanto se discutia economia num palco, no palco clubbing a Uffie andava a fazer crowd surfing apenas de body, completamente drogada e provavelmente sem perceber que deu um concerto fraco e desinteressante.

Seguiu-se o afrobeat de Afrojack, que dentro do estilo da música que produz esteve bem, mas a atenção estava agora virada para o palco Optimus.

A noite já vinha atribulada desde as 19h graças aos sucessivos atrasos e cancelamentos de três concertos no palco principal do Alive, causados por problemas técnicos. Depois de apenas uma hora de concerto da muito esperada banda de Jared Letto, os 30 Seconds to Mars, com muitas vaias e assobios de contestação à mistura, a dupla electrónica britânica The Chemical Brothers, deu início ao um concerto implacável, como aliás já se esperava.

Tom Rowlands e Ed Simons mostraram que mesmo ao 7º álbum continuam engenheiros de som magistrais. Apesar do público ainda não estar familiarizado com as canções mais recentes do álbum “Further”, publicado no mês passado, mostrou-se rendido a clássicos como “Do It Again”, “Believe” ou os explosivos “Hey Boy Hey Girl” e “Galvanize”. Com um ritmo incendiário do início ao fim, de electrónica possante e synths animalescos, a dupla fez esquecer dificuldades técnicas com um espectáculo de efeitos visuais arrebatadores e muita adrenalina que não desapontou uma massa humana de corpos que tentava como podia acompanhar o passo com movimentos de dança frenéticos.

A noite continuou com os sempre iguais, mas sempre estrondosos concertos da Steve Aoki, que voltou a abrir champanhe, que voltou a atirar-se para a plateia, que voltou a dizer “WUP WUP” ao som do relógio da Warp. Enquanto os Steve’s Aoki’s do Alive estavam todos aos carinhos no palco de clubing, às 3h começavam os senhores que sabem o que é electrónica, o que é produção, o que é pensar num disco com pés e cabeça, fazê-lo bem e saber repeti-lo! Chegámos e estava pouco gente e ainda bem. Deu para ouvir o que queríamos. Música a música, tanto do álbum “Idealism” como de “I Love You Dude”, com temas como “2 hearts” a fazer os encantos dos (e das) resistentes que por ali passaram.

Texto: Miguel Leite e Pedro Lima
Fotografia: André Granada (IPHONE, plateia)

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