Ficámos a saber que o Alive vai ter mais 5 edições, 3 delas com o patrocínio da Optimus e que as datas do próximo ano já estão definidas : 12, 13 e 14 de Julho.
Batiam as 18h45 quando entrámos no recinto, na expectativa de apanharmos os misteriosos WU LYF ainda a darem os acordes finais, o que infelizmente não aconteceu. Perguntamos a quem já estava lá o que acharam e era unânime: os britânicos tinham feito mossa, toda a gente tinha várias palavras agradáveis para os descrever – “Devias ter visto, são muito bons!”. Não há problema, se são de facto bons, hão de cá voltar num registo maior, pensava eu enquanto os Linda Martini já entravam em palco. A banda que recentemente lançou Casa Ocupada vinha preparada para rebentar com aquele público de final de tarde, (que era bem maior que o do dia anterior) o que se notou pelo layout dos vários elementos da banda, onde abdicaram do tradicional baterista lá atrás e puseram o Hélio bem à frente, com uma ventoinha só para ele. Ser bom dá trabalho! O concerto foi bom, pecou por curto, mas os Portugueses tiveram oportunidade de desfilar músicas como “Amor Combate”, “Mulher-a-Dias” e “Belarmino”, tendo a banda dedicado as duas últimas aos responsáveis pela realização dos videoclips. O público estava morno, natural, depois de 3 dias a fazer vida de festivaleiro, já não havia muitos sobreviventes – “A responsabilidade deste concerto também é vossa” – picava o baterista. Morno ou não, o público lá foi respondendo, com uma ou outra letra debaixo da língua, mas com a frase bem decorada na música final, “100 Metros Sereia” – foder é perto de te amar se eu não ficar perto – que mais uma vez, revelou-se o momento alto do concerto.
Logo a seguir vêm os Foals, uns ávidos criadores de math-rock que fazem desta forma a sua estreia em Portugal, coisa que os mesmos fizeram questão de anunciar. Tímidos e recatados, normal nesta coisa da música introspectiva, começam o concerto com a lenta “Blue Blood”, acabando com um rápido agradecimento num Português aprendido provavelmente quando iam a entrar no palco. Foi então que as coisas começaram a mudar de figura. As músicas começaram a divagar para fora do álbum e os Ingleses lá se põem a mostrar toda a sua virtuosidade de “improviso” (bastante treinada, imaginamos nós) ao darem uma nova vida às faixas perfeitinhas e masterizadas das embalagens. Vem “Total Life Forever”, (faixa que dá nome ao segundo álbum), que consegue animar as hostes e logo a seguir uma famosa “Cassius”, que incendeia e põe todo o público ao rubro. De repente, ouve-se as primeiras teclas do piano com doses gigantes de reverb da aclamada “Spanish Sahara” e vê-se muita gente a ligar ao namorado/a – vinha aí o momento grande do concerto. À medida que a música crescia, via-se cada vez mais pessoas de olhos fechados e a sentir a catadupa de emoções que a melodia evoca. Era oficial, os Foals tinham deixado todos em transe, agora tudo era bem vindo. Decidem então partir para o álbum Antidotes de novo, do qual tocam “Red Socks Pugie” e “Electric Bloom”, com Philippakis a trazer um timbalão, inicialmente para a frente mas depois para o fosso, e a ajudar o baterista na percussão. Quando ninguém o esperava, Philippakis dirige-se ao público e anuncia “Apparently, we don’t have more time to play. Sorry”, deixando por terra “Olympic Airways”, “Balloons” ou mesmo “This Orient”. Uma estreia algo atribulada, mas que deixa muita água na boca.
Chega então a informação de que Dizzee Rascal já não vem, aparentemente porque trazia consigo droga a mais porque teve uma “pequena” zanga a bordo e vai ser trocado pelos “parecidos” Diabo na Cruz. Uma decisão algo estranha quando, por exemplo, Sam The Kid iria tocar mais tarde com Orelha Negra. Decidimos ir então ao palco ao lado, onde temos Gold Panda, perante um público claramente citadino e jovem, a mexer-se ao som das melodias étereas e baixos pesadões do britânico. Alguns comentam a falta de interacção com o público, dada a concentração do mesmo na sua MPC, mesa e teclado. Não interessa, está tudo de olhos no chão de qualquer forma, a abanar a cabeça ao ritmo de algo diferente e fora de tempo (propositadamente, veja-se). Acaba, ouve-se um feedback estranho, a baixar progressivamente e um “Thank You, Goodbye” apressado.
É agora altura de TV On The Radio, o nome grande do palco Super Bock, que voltam a Portugal desta vez com um novo baixista, dado o falecimento de Gerard Smith em Abril. Adebimpe entra, cumprimenta os presentes com um simpático “Hey, what’s up?” e parte para aquele que foi o concerto com melhor som que ouvimos. Finalmente um trabalho impecável atrás da mesa mistura, onde se ouvia tudo com a clareza que os baixos exacerbados (normais num festival) permitem. A voz estava clara, tudo estava preparado para ser de arromba. E foi. Com um estilo muito cativante, as músicas foram sendo debitadas pelo vocalista como quem queria demonstrar “the bigger picture” , com gestos expansivos e expressivos, como se a dar forma às letras. Começaram com “Halfway Home”, passaram por “Young Liars”, “Repetition” e acabaram com a fantástica “Wolf Like Me”. Muitas palmas, muitos obrigados e um pedido para que voltem em breve, em nome próprio.
São agora horas de ir buscar qualquer coisa para comer, enquanto Paramore faz as delícias da malta mais nova (e alguma mais graúda), num concerto que dizem ter sido muito bom. Não sendo essa a nossa praia, decido acabar a minha tachadinha de forma algo apressada para poder apanhar a meia hora dos Spank Rock, no palco Clubbing. Rap com electrónica, rimas cuspidas a um ritmo desenfreado e muita gente a aprovar o que se estava a passar. E o espectáculo, aparentemente já estava feito, mas foi então que entrou a senhora que roubou toda a atenção e pôs as coisas noutro patamar – Amanda Blank. Entra, levanta o som do seu micro e foi vê-la a mandar um manguito aos Black Eyed Peas enquanto confessava se estar a divertir imenso. O público também, estavam todos hipnotizados pela força da rapper, que uns dizem ser uma preta presa num corpo de uma branca, dado nunca terem visto nada assim. Uma meia hora de luxo!
Tempo então para vaguear um pouco entre palcos, onde pudémos ver os Jane’s Addiction a deliciarem os layers mais velhos da plateia, concerto que teve de resto imensa pompa e circunstância. No clubbing ouvia-se o techno de Erol Alkan, que estava aparentemente a agradar a mais gente que os Portugueses Diabo na Cruz no palco Super Bock.
Acabamos a noite em grande com o Fake Blood a demonstrar dotes diferentes daqueles que trouxe ao Lux Frágil ainda este ano, passando um techno pesado e a tocar no electro, que não deixou ninguém parado durante todo o live set. Tempo ainda para “Mars” e “I Think I Like”, que ajudam a acabar o seu tempo fazendo a transição perfeita para o sprinter A-Trak, que mal Duck Sauce acabou no palco principal, veio “a correr” (vá, deve ter vindo de carro) para o palco secundário. E o que é que se pode dizer de A-Trak que já não se saiba? O homem é um génio atrás dos pratos, mistura música como pouca gente o faz e consegue fazer tudo e mais alguma coisa com o vinil. Foi vê-lo de pé em cima da mesa, de cócoras a fazer scratching e à frente dos pratos simplesmente a puxar pelo público. A-Trak é grande e foi a cereja no topo do bolo de um festival que deixou todos de rastos.
Texto: João Pacheco
Foto: Diogo Mendes
