Foi com alguma pena que chegámos tarde ao primeiro dia do Dispersões Coloidais, que já vai na sua 8ª edição. Mas depois de um dia algo atarefado, tivémos mesmo de ir jantar ali ao lado. Saciada que estava esta necessidade básica, fomos ao encontro da Calçada da Trava, onde Lucas Bora Bora já tinha acabado – “é tipo pop electrónica” dizia-nos horas antes o vocalista dos Salto, que também ia pisar o palco mais tarde. Entramos, vemos Mendes e João Só em cima do palco, num rock and roll tranquilo, divertido e para mexer o pé. A fazer lembrar um Rui Veloso mais miúdo, com um sidekick a fazer a voz mais aguda (nomeadamente, o João Só). O público recebia-os com entusiasmo, ainda que comedido, até porque ainda era cedo.. via-se que grande parte estava ali para os bem conhecidos Os Pontos Negros. Ainda assim, cantarolava-se pelo público as letras de uma ponta à outra, sobretudo no refrão de “Vai Por Mim (Cimento no Coração)”, música que de resto, cola bastante ao ouvido.
Seguem-se Os Pontos Negros, já conhecidos pela grande maioria do público, quanto mais não seja porque toda a gente sabe as letras, tintim por tintim. Seja em “Rei Bã”, onde até o riff inicial é cantado, seja em “Duro de Ouvido”, onde ninguém fez juz ao nome e cantou direitinho cada palavra. Os Pontos Negros são uma verdadeira banda de indie-rock Português, gostam do que fazem e transmitem isso a quem os ouve. Gostei sobretudo do inicio do concerto, numa frase que pode e deve vir a ser mítica neste Dispersões Coloidais “O Festival que já consegue ser mais underground que a Galeria Zé dos Bois!”.
Acabado que estava, os Salto lá montaram o estaminé e vem um dos organizadores avisar “Salto é para dançar. Dançar não é fácil, mas se fosse fácil estavam cá outros”, numa alusão ao curioso slogan do evento. Na verdade, tenho de discordar, dançar com os Salto.. é fácil. Começa um sample, com um texto que não me recordo, mas que acaba com a mítica “Façam favor de ser felizes”. Foi então que os miúdos entram e tocam “Deixar Cair”, “O Tempo que Mudou” e ainda “Canção Diagonal”. Vê-se toda a gente a dançar, neste caso, já poucos têm as letras tão na ponta da língua, mas ainda se vai vendo alguns conhecedores. Indiferente ninguém lhes fica, sobretudo quando a meio de uma das músicas começam a cantar “Golddigger”, cujo refrão todos sabem! Um pouco de melodias dubsteppadas, onde os dois trocam temporariamente de papel, e voltando depois à formação inicial, acabando com “Sem 100” e “Por Ti Demais”, numa versão que inclui Klaxons e Aloee Blacc.
Estava assim terminado um fantástico dia 1, onde vimos que o indie rock Português está vivo e bem vivo. O público esteve lá, sedento por música cantada em Português e conhecedor do trabalho das bandas. Chegados à rua, ainda assistimos a um dos organizadores em “animada” conversa com uns senhores agentes, provavelmente por queixas da vizinhança.
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Texto : João Pacheco
Fotos : Miguel Leite & João Pacheco
