Washed Out são uma das bandas que melhor representam aquilo a que muitos gostam de chamar Chillwave. Comandados pelo vocalista e produtor Ernest Greene, contam já com três EP e lançaram em Julho o primeiro disco, «Within and Without». Vieram esta quarta-feira ao Lux para apresentar este trabalho e na bagagem até trouxeram um tema inédito e uma cover que nos embriagou. Este é o retrato rápido, de uma noite que também podia ter sido mais longa.
Washed Out é música de viagem e nós bem que tivemos de ir a abrir para o Lux para conseguir chegar a horas. Tínhamos o disco no carro e, apesar de Washed Out se associar facilmente ao Verão, há neste disco algo que dá mais sentido ao alcatrão molhado, aos vidros embaciados, às luzes misturadas com a chuva, ao frio de Novembro.
Chegámos a tempo de ouvir o grandessíssimo Ernest Green ainda na primeira música. Estava já a enfeitiçar uma centena e meia de corações com a «Hold Out», naquela cave escura, protegida do mau tempo que rodeava o Lux. E a viagem começou calma, com uns Washed Out visivelmente cansados de uma tour que já vai com uns mesinhos de EUA e Europa e que vai continuar agora por Inglaterra.
Tempo para a mais mexida «Echoes» e um dos temas estrela do novo álbum, a «You and I». Por esta altura bastava fechar os olhos para continuar na tal viagem melosa, nostálgica, arrebatadora. É disto que se faz esse tal Chillwave e a verdade é que é por isto, por estes temas, que vale a pena fechar os olhos durante um concerto.
De vista já bem aberta lá ouvimos Ernest Greene a contar que algures pelo caminho entre Madrid e em Lisboa tinha ficado um sintetizador perdido e que por isso a banda estava menos à vontade. E estavam. Baixista, baterista e rapaz e rapariga nos teclados, estavam com um ar cansado, quase desolado, que foi difícil esconder do público, que mesmo assim foi respondendo e puxando pela banda.
Tempo para a apresentação de uma nova música e para a «Belong», um dos temas que mais nos marcou em 2009 e que foi um dos principais motivos da explosão desta banda. A «Belong» faz-nos lembrar bons tempos, dias imaginados, gravados com uma super 8, que regista cores em laranja e amarelo, com flashes, com frames de película queimados com esta banda sonora de fundo: “Let me see who you are, don’t try to hide the world that you belong”.
Com o set a avançar pela «New Theory», «Soft» e «Feel It Around» fomos vendo mais pessoas a dançar, a mexer, mas o concerto continuou meio chalado, comandado por uma banda que raramente expressava sorrisos ou entrega e que só foi sendo salva pela vontade do vocalista. Aqui, momento estranho da noite. Em que Ernest Greene e companhia abandonam literalmente o palco para um “break”, um intervalo estranho, provocado, que não se percebeu bem o que foi. Verdade é que voltaram e voltaram com o que para nós foi o momento alto da noite. A cover da «Wicked Game» de Chris Isaak, que mandou toda a gente de volta aos anos 90 e ao «Wild at Heart», de David Lynch.
À boleia da frase “No I don’t wanna fall in love” lá começámos a “Rising towards the light” com a «Eyes Be Closed» e levantámos o pezinho pela primera e última vez na noite, já que o concerto acabou, com pouco mais de 40 minutos e uma banda, que mesmo depois de 5 minutos de assobios e palmas, decidiu não voltar para o encore, que provavelmente seria apenas mais do mesmo. No final de contas, que gostamos mesmo de fazer estas contas, o concerto foi morno, mas valeu a pena porque, mesmo morno, aqueceu-nos a noite. Adieu Ernest Greene, adieu.
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Texto: Miguel Leite
Fotografias: Miguel Leite e Bernardo Ferreira
