É impossível ouvir Lioness: Hidden Treasures, o álbum póstumo da falecida Amy Winehouse, sem um sentimento agridoce de nostalgia e egoísmo por termos perdido esta voz. Resta-nos saborear cada faixa deste tributo à artista, ao talento e à mulher que nos deixou aos 27 anos de idade.
Lioness: Hidden Treasures é uma colecção de 12 faixas compiladas por Mark Ronson e Salaam Remi, dois produtores que acompanharam a curta carreira de Amy Winehouse, gravadas antes, durante e depois do lançamento dos memoráveis Frank e Back To Black. O álbum inclui faixas inéditas, novas versões de temas já conhecidos, covers e colaborações bem sucedidas ao lado do rapper Nas ou da lenda do jazz Tony Bennett.
“Our Day Will Come“, original dos Ruby & The Romantics, abre as hostes em versão reggae de balanço relaxado e vocais sussurrados em fundo que nos deixam no mood certo para o resto da audição. “Between The Cheats”, continua na era do shoo wop anos 60, com coros flutuantes, saxofone e pratos a aquecer a sala. Reconhecemos a fragilidade desarmante de “Tears Dry (on their own)” do álbum Back to Black, e sentimos o incrível soul da artista cantado ao nosso lado, olhos nos olhos. De novo uma viagem no tempo, de volta aos anos 60, paixão de Amy, com um original das The Shirelles “Will You Still Love Me Tomorrow”, também já interpretado por Lykke Li em versão acústica. Percussão intensa, voz amargurada e coros cheios de alma em conjugação perfeita com a incerteza e a ansiedade da letra.
Entre baforadas de fumo narcótico e metais omnipresentes, damos de cara com o rapper norte-americano Nas ao lado de Amy em “Like Smoke“, dueto entre amigos que viria a integrar o terceiro álbum da cantora londrina. “Valerie”, chega-nos também mais suja e autêntica, sem excessos de produção. Celebra-se a voz pela voz, o ritmo em estado selvagem, menos saltitante e com aquele gingar de ombros que Amy nos habituou. Calçamos as havaianas e estendemo-nos ao sol do Rio de Janeiro com uma versão imprevista de “The Girl from Ipanema” do génio da bossa nova, Tom Jobim, numa cadência morna e acelerada de improvisos vocais que nos arrancam um sorriso dos lábios. Mais para o final, uma marcante versão jazz de “Wake Up Alone”, com guitarra acústica a embalar cada nota como um segredo bem guardado.
Momento marcante de todo o álbum é, sem dúvida, o dueto entre Winehouse e Tony Bennett em “Body and Soul“, duas gerações lado a lado que ligam como almas gémeas, sedutoras e cúmplices sobrevoando as notas atiradas por uma orquestra de teclas, cordas, sopros e percussão. Terminamos a audição ao som da chuva, com “A Song for You”, canção escrita em 1970 pelo cantor rock Leon Russell e trazida para os territórios jazz por nomes como Ray Charles ou Michael Bublé. Uma versão intensa e emotiva, cantada de coração destroçado que nos deixa com um estranho amargo de boca e uma estranha sensação de vazio.
Em jeito de conclusão, Lioness: Hidden Treasures é uma forma perfeita de redescobrir Amy Winehouse, esquecendo todos os incidentes dos seus trágicos últimos meses de vida, sem lamentos ou piedade. Uma obra que faz justiça ao talento da cantora que não será esquecida.
Amy Winehouse – Lioness: Hidden Treasures (7/10)
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Tracklist:
1. Our Day Will Come (Reggae Version)
2. Between The Cheats
3. Tears Dry
4. Will You Still Love Me Tomorrow
5. Like Smoke (feat. Nas)
6. Valerie (’68 version)
7. The Girl From Ipanema
8. Halftime
9. Wake Up Alone
10. Best Friends, right?
11. Body and Soul (feat. Tony Bennett)
12. A Song For You
Pedro Lima
