Dia 30 de Janeiro. Data muito aguardada em todo o mundo. Nascimento do último produto de marketing musical Born to Die, o tão ansiado álbum de Lana del Rey, estrela cadente que em poucos meses saiu da obscuridade para se tornar na nova pin-up da música pop actual. 

Recuando um pouco no tempo. Filha de um investidor abastado, menina de colégio interno depois de alguns problemas de álcool e drogas, Elizabeth Grant, chegou a Nova Iorque aos 18 anos onde começou a cantar em bares sob o nome de Lizzy Grant. Não encontrou grande sucesso, chegou mesmo a viver num parque de roulottes em New Jersey por uns tempos. Mas para trás ficaram as imagens de girl next door de ar cândido de loira californiana. Para dar início ao processo de transformação de Lizzy para del Rey, a cantora rumou a Londres. E assim virou um capítulo.

Idolatrada por uns, odiada por outros, Lana del Rey  (nome inspirado na combinação entre a actriz Lana Turner e o automóvel Ford Del Rey) é hoje acusada de ser uma fabricação cirúrgica com os olhos postos nas notas de dólar, uma personagem falaciosa construída por farrapos apropriados às memórias de clássicos americanos. Expressões como “falta de autenticidade”, “farsa”, “fedelha mimada” ou “calculismo” vieram reacender as discussões à volta deste fenómeno em ascensão.

Auto-denominada de Nancy Sinatra versão gangster, a artista de 24 anos renasceu como um portento de sensualidade, olhar lânguido, lábios carnudos num eterno beicinho, figurinos ao jeito de estrelas como Lauren Bacall, longos cabelos e curvas perfeitas como Rita Hayworth. Ela descreve-se ainda como uma “Lolita perdida na floresta” e aponta um vasto leque de inspirações que vão desde David Lynch aos filmes antigos a preto e branco, da moda vintage à rebeldia motoqueira, a Britney Spears, Elvis Presley ou Kurt Cobain.

Controvérsias à parte, até porque nenhum sucesso escapa a tão espinhosa travessia, vamos ao que interessa. Deixemos de lado acusações mesquinhas e disparates alcoviteiros.  Fechamos os olhos aos contos de Frankestein e afinamos os ouvidos para mergulhar numa viagem ao lado mais negro da Hollywood dos anos 50. Composto por 12 ou 15 na edição Deluxe, o disco não desaponta. Uma audição sem percalços mas também sem momentos memoráveis, construída para soar como um todo e não como uma colagem de canções. Antes de ser publicado, já mais de metade das canções deste disco eram conhecidas. “Born to Die”, “Off to the Races”, “Summertimes Sadness” ou os magistrais e aclamados “Video Games” e “Blue Jeans”, confirmavam esta incapacidade de fugir à inevitabilidade da morte e do romance, à vivência de realidades mundanas de drogas, sexo, tragédia, nostalgia e drama em canções de amor que não confortam necessariamente.

A voz de Lana exalta o clima de glamour decadente evidenciado pela sua imagem sedutora como uma diva de cinema em atmosferas de melancolia despojada. Umas vezes frágil e dependente, quase suplicante e infantil, outras orgulhosa e controladora. Um actuação forjada em traços de poder feminino consciente do domínio sobre as regras de atracção, mas também de instabilidade e fraqueza. Todos temos os nossos momentos de fraqueza.

Arranjos orquestrais sumptuosos de cordas e sopros embrulham toda esta colecção de canções de produção rica e minuciosa, com vocais vaporosos, ronronados e apontamentos de baladas gloriosas (“Vídeo Games”, “Blue Jeans”, “Million Dollar Man” (que é feito de ti Fiona Apple?), mistérios dignos dos mais torturados episódios do Twin Peaks (“Summertime Sadness”), percussão com batida cardíaca acelerada (“Dark Paradise”, “Born to Die”), electrónica suave (“Without You”) ou versos atirados com fluência hip-hop (“Lolita”, “National Anthem”). Na verdade, não são as melodias sussurradas que falham neste álbum. Essas aninham-se nos ouvidos com destreza felina. As letras são o calcanhar de Aquiles de Lana del Rey, que recorre a inúmeros clichés que não sustentam a personagem que tenta a todo o custo replicar. Mas não vou pegar por aí, porque de “baby you’re the best” ou “you are my one true love” está o meu ipod cheio.

Se há música que não vai dividir públicos será o soberbo “Video Games”. Esse ninguém tem dúvida, é o seu porta-estandarte. A partir daí é sempre a descer e a afiar as unhas. Mas no final penso que Born to Die triunfa.  Um álbum que certamente irá calar os comentários mais ácidos. Ou talvez não. Depressivo, íntimo e misterioso este é um álbum simples, sem ser simplista, que conquista nos detalhes. Um álbum que, sem ser uma obra de arte, transpira beleza e emoção apesar de inspirar pouca centelha. E isso, para mim, é mais do que suficiente.

Born to Die esta disponível a partir de hoje com o selo da Universal e pode ser comprado aqui.

Lana del Rey – Born to Die (7 em 10) 

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Pedro Lima

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