O dia começou chuvoso, o que talvez tenha assustado alguns dos aventureiros do Mexefest. Ainda assim, ainda se juntaram umas quantas pessoas ao final da tarde para ver os Lacraus a dar um concerto versão inimista no café Guarany. Chega entretanto a hora de jantar, despachamos com alguma pressa uma francesinha e voltamos para junto do Coliseu, onde iam acontecer o resto dos concertos. Subi aos Maus Hábitos só para fazer tempo enquanto os The Do não começavam e vi os Lacraus numa versão mais rockabilly, fiéis a eles mesmo. Entretanto, Fink também começava ao mesmo tempo no Ateneu, uma sala intimista, com uma acústica perfeita. Enquanto os olhos se fechavam e as cabeças se moviam, devagar, ao som de temas como “Honesty” ou “Sort of Revolution”, fomos ficando com a certeza que aquele era um dos melhores concertos do festival. As guitarras tocavam baixo, perfeitas. A bateria estava com a equalização certa e Fin Greenall, ele próprio, parecia encantado com aquele ambiente, que poucas vezes se repete. Mas de volta aos Franceses/Finlandeses, que punham o Coliseu quase repleto de pessoas e ofereciam uma excentricidade em palco característica da sua música. A doce voz de Olivia Bouyssou Merilahti às vezes chegava-nos tão clean que dava arrepios, misturada com outros momentos de divagação sonora, com direito a não um, mas dois saxofones. “Hoje comi bacalhau.. é salgado, não é?” – comentava, enquanto bebia mais um golo de água – “Mas é óptimo!”. Mostraram-nos o novo álbum, tocaram ainda umas canções do primeiro álbum e despediram-se. Conversadora, amorosa e carismática, Olivia encheu a plateia de amor.

Saio de lá com necessidade de mandar umas pedras de um lado para o outro, só para reconquistar a minha masculinidade, mas o melhor foi mesmo entrar para Hanni El Khatib. Aquela mistura de rock com blues que poderia soar bem melhor num sítio com uma acústica decente, acabou por soar um pouco a rock distorcido. O próprio músico sentiu isso e comentou que “já não tocava numa garagem desde os 14 anos”, visivelmente irritado com a organização. Foi, portanto, uma má primeira experiência para ele e uma não tão boa para nós também. No entanto, a garagem estava apinhada de gente, naquela que foi a maior enchente daquele palco em todo o festival. Atravessamos a rua, acabamos a cerveja e fomos ver Twin Shadow, que no dia anterior passeava-se pelo público em St. Vincent. Ainda antes de entrarmos, percebemos que se juntava ali uma multidão na rua e bastou olharmos para cima para entender o que se passava. Eram os Salto, a dupla que tinha tocado no dia anterior, a dar um concerto surpresa na pala do Coliseu, completamente “à pala”. Dançámos um pouco e fomos então ver um tal de George Lewis Jr. Este já sabemos, é uma aposta ganha. Encheu o Coliseu quase pelas costuras (segundo nos reportava a aplicação do festival) e entreteve a plateia durante uma hora inteira. Fez alguns elogios aos Portugueses, ainda foi tocar para o meio do público e fez o seu papel como cabeça de cartaz. Sugeriu, enquanto dizia sentir-se uma estrela rock em Portugal, que lhe dessem drogas (sendo que esta seria a nossa única falha). Entregou-nos “Slow” com uma demorada introdução, aperaltou-se em “Forget” e ainda mostrou-nos uma nova malha de um álbum “a sair em Julho”. Foi um bom concerto, mas precisamos de mais álbuns para comprovar a perícia deste repetente George Lewis Jr.

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O resto da noite acabou por ser em versão piloto automático. Começámos por ir conhecer os ilustres dos Foals que teriam vindo ao Maus Hábitos em formato DJ Set, onde pudémos ver que aquilo não ia passar disso mesmo. Descemos os quatro andares e dirigimos-nos ao bar do Pitch, onde Tiger & Woods iam começar o live set. Dois pads, uma mpc e uns controladores midi edificavam o set up destes protegidos da DFA Records. A verdadeiro expressão era “nhe”, sem grande fogo ou inovação, lá iam fazendo uns house beats enquanto faziam uns quantos mexer os pés. Só faltava os grandes da noite, Beatbombers, que tocaram apenas com um PA (falhas técnicas) e deram um show com direito a Hip-Hop, Soul e Funk.

Foi um festival que correu bem, para a sua primeira edição, mas com muito espaço para melhorar. Ainda assim, tem coisas que funcionam melhor que na edição Lisboeta – a iluminação de alguns palcos estava perfeita e os espaços são mais próximos, começam mais cedo e acabam mais tarde. Só por isso, esta edição já é uma vencedora. Até para o ano!

João Pacheco

Fotos : Miguel Leite

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