Amesterdão voltou a acolher no final do mês de Maio o Hilfiger Denim Live e a Punch esteve por lá, em colaboração com a PARQ magazine. Trata-se de um evento de moda e de música que conta já com três edições e pelo qual já passaram nomes como A-Trak, John Legend ou The Rapture. Os concertos tiveram lugar na mítica sala Paradiso e este ano as rédeas estiveram entregues a artistas como Wavves, Peaches, Tennis ou de os the Smith Westerns.

O Hilfiger Denim Live é uma celebração da imagem e cultura da marca, que todos os anos escolhe artistas jovens, emergentes dos Estados Unidos – país onde a marca nasceu – e do país que recebe o evento. Em Amesterdão a passagem é sempre feita na obrigatória Paradiso, uma antiga Igreja transformada em discoteca e cuja principal sala parece um teatro com uma grande pista de dança. Além deste espaço, a Paradiso tem ainda uma sala secundária e uma pista de dança na cave, onde mais tarde iriam actuar dj’s holandeses.

Coube aos Go Back to the Zoo abrir as hostes do palco principal. A banda indie holandesa começou com pouco público, que ainda se amontoava à entrada entre os primeiros copos e conversas. Com momentos de Pixies ou Velvet Underground, os Go Back to the Zoo foram apresentando o seu mais recente disco Benny Blisto, enquanto a sala se compunha.

Nos bares e no hall principal iam-se acumulando centenas de pessoas, entre bandas, fãs e modelos, vestidos com as cores da marca. Demos de caras com os Tennis, que se preparavam para o concerto na sala mais pequena. Patrick Riley e Alaina Moore, marido e mulher, vindos de Denver e donos de um indie pop naif, que acalma. Aproveitámos para falar sobre as expectativas da banda em relação ao concerto no Porto, no Primavera Sound, onde iriam actuar poucos dias depois. Mostraram-se entusiasmados, com a cidade, com o festival, com o facto de poderem apresentar novos temas numa cidade como a invicta.

Momentos depois estavam em cima do palco, acompanhados de mais elementos e com uma sala cheia, a bater o pé lentamente, como se de um encanto se tratasse. Fizeram desfilar todos os temas de “Young and Old”, mas foi com a “Origins” que arrancaram mais sorrisos. Música amorosa, cantada por uma Alaina Moore com um ar doce, que nos deu um bom início de noite.

Ao mesmo tempo e na sala principal já estavam os Smith Westerns, banda de Chicago, composta por três amigos da escola secundária, que deixaram tudo para trás para se meter na tour de um álbum homónimo, que conquistou o público de tal maneira que a Hilfiger Denim acabou por fazer deles a cara principal da campanha Primavera-Verão.

Deram-nos um concerto sólido, de glam rock do mais clássico que podemos imaginar. De cabelos compridos, t-shirts a lembrar Seattle nos anos 90 e bonés na cabeça, foram deixando passar temas como “Weekend” ou “Smile”. Talvez por serem, literalmente, uns miúdos, o concerto podia ter aquecido e foram alguns os que voltaram a migrar para a sala secundária, desta vez para ouvir o synth-pop e folk dos Dominant Legs, banda de São Francisco.

Por esta hora a Paradiso estava completamente a abarrotar. Com gente a subir e a descer escadas, pessoas bem vestidas, bonitas, sem estarem demasiado direitinhas. Óculos de sol, chapéus, acessórios, mais acessórios, mais acessórios. Projecções das roupas da marca na parede, DJ’s oficiais como o holandês Mr. Wix a fazerem a ponte entre as várias bandas. Mesmo tratando-se de uma quarta-feira, viu-se que o público holandês abraçou a ideia e aderiu em massa, pelo menos até à hora  da actuação dos Wavves.

Nesta altura já estava Nathan Williams pelo backstage. O controverso e desatinado vocalista dos Wavves, andava a distribuir socos amigáveis ao guitarrista quando foram chamados ao palco. Para uma noite cujo tema principal era o rock, tínhamos visto muito pouco do que realmente caracteriza este género musical, mas só até estes meninos terem subido ao palco.

O concerto começou como todos os concertos de rock deviam começar: com reverb e distorção. Esperou-se pouco pelo primeiro break de bateria e de um momento para o outro estava o público todo aos saltos e em moche ao som do tema “King of The Beach”. Wavves lembra o género de um grunge que ficou em coma e acordou 20 anos depois numa praia na Califórnia, com muito sol, mas com os mesmo problemas de amor.

Na sala de cima o registo já era outro, mas muito interessante. Actuavam as Spacegirls, colectivo de DJ’s com nada mais nada menos do que sete holandesas lindíssimas a passar deep house e outros registos de electrónica.

Tempo para uma pequena paragem para observar aquela que é a mais imponente sala de Amesterdão, beber uma cerveja e imaginar que por ali já passaram os maiores nomes da música do mundo. Já eram 2h da manhã e a sala principal começava despovoar. A organização decidiu alterar o DJ Set e MC Set de Peaches para a cave e não podia ter tomado melhor decisão.

Descemos as escadas rapidamente, para furar até à cabine de DJ e ainda a tempo de assistir ao resto do set das Hollywood & Vine. Chicago house e Detroit techno, uma mistura perfeita que marcou o ritmo para aquela que viria a ser a actuação da noite.

Merrill Beth Nisker, ou Peaches, entrava em cena, maquilhada como sempre, espampanante como sempre. De microfone na mão, não se ficou só pela mistura entre o electro ou techno. Cantou, interpretou temas próprios até a cave estar completamente a abarrotar, quente e suada.

Viajou até ao tempo de “Teaches of Peaches”, cantou a “Fuck the Pain Away”, gritou “The Boys Wanna Be Her”, abriu quatro garrafas de champanhe e deu banho aos resistentes. É incrível ver a energia de uma artista que tem mais de quarenta anos, que conta com quatro álbums e, segundo nos confessou, já tem aí um novo single à porta.

Às 4h da manhã a canadiana deixou-nos e estávamos prontos para ir embora quando o inesperado aconteceu. O resto de público das outras salas foi descendo para a cave, que levou nova injecção de calor com a audiência a mexer os braços ao som de Jazz Rath. Autêntica surpresa da noite, o DJ holandês começou a disparar um deep house tão bom e de tanta qualidade que foi impossível deixar a Paradiso. Por ali apareceram temas de Julio Bashmore, Noir and Haze ou até Azari and III.

Mas, no final, continuava a ser quarta-feira e a noite tinha de acabar. E acabou, perfeita, naquele registo electrónico, bem seleccionado, cuidado, mas que deixou ali aquele que é claramente a cena fashion de Amsterdão, com os cool kids holandeses a ocupar o palco e a dar champanhe à boca do público.

Saímos de barriga cheia. Cheia de rock, de boa atitude, de simpatia, música de qualidade e absolutamente deliciados por uma noite que não se esquece, organizada por uma marca que nitidamente sabe o que faz e que escolheu um conjunto de bandas que satisfaz e faz querer mais. Até para o ano.

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Texto e Fotografias: Miguel Leite

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