Fomos a Amsterdão para o Hilfiger Denim Live e saímos de lá com quase uma hora de conversa com a Peaches, entre entrevista oficial e encontros inesperados. Confessou-nos que adora Portugal, andar por Sintra e pelo Guincho.

Disse-nos que já roubou uma cadeira de rodas e ainda nos disse que não odiava homens, que, se fosse preciso, também dava pontapés em miúdas.

É uma pessoa acessível, simpática de valores no sítio e com uma moral de que todos precisamos. No fundo, nada do que estávamos à espera. No fundo,  muito melhor do que poderíamos ter imaginado.

Entrevista

Cantaste com a artista portuguesa Da Chick, no Porto. O que é que tens a dizer sobre a Teresa?

A Da Chick foi energética, adorei a performance dela. Ela é “cool” e tem uma energia crua, pura. Também gosto muito da ideia dela e do Moullinex estarem a trabalhar juntos com efeitos na voz e coisas como essas. Acho que é um bom acrescento!

Sobre Moullinex… Tiveram uma colaboração para a Gomma Records, com a música Manic. Como é que foi fazer esta cover e trabalhar com ele?

É a minha música favorita nessa compilação! Acho que ele acertou memso. No princípio estava um bocado chocada porque ele tinha baixado o ritmo da Maniac, que é uma música cheia de punch, mas acabou por funcionar mesmo bem.

Nessa música estás mais “sweet” a cantar, com uma voz diferente, uma abordagem diferente. Concordas?

Não concordo,  acho que há partes mesmo cruas e, claro, uma partes mais calmas.

Estás a preparar o teu quinto álbum ou tens outros planos?

O meu último disco foi editado há três anos (I Feel Cream) e desde aí tenho-me dedicado a performances mais teatrais. Fiz o Jesus Christ Super Star, cantei tudo sozinha, com o meu amigo Gonzalez a tocar piano e até fizemos tour nos Estados Unidos e Alemanha.

Estou também a produzir um disco para uma girls band de Taiwan, chamada Go Chic. Acabei agora, mas ainda não temos label e por isso não posso confirmar a data de saída. Elas fazem um electro rock muito bem, que é fresco – odeio usar esta palavra. E acho que acertaram mesmo na combinação entre hard electro e músicas compostas mais ao detalhe.

Vens muitas vezes a Portugal, para concertos, para passar discos. Como é que te sentes em relação a Lisboa e o que que fazes depois das tuas actuações?

Tenho alguns amigos aí, como o Legendary Tiger Man ou o meu amigo Artur. Costumo sair com eles, algumas vezes para o Bairro Alto, bares, é fixe! O que eu gosto mais mesmo em relação a Portugal é de poder sair da cidade e ir a Sintra. Adoro Sintra, adoro o Guincho e todas as praias ali ao pé.

Também vais a muitos festivais… Estou-me a lembrar particularmente de um Paredes de Coura, em que literalmente começaste a andar em cima do Público?

Nesse ano tive dois concertos em Portugal. O primeiro foi com Placebo e o segundo com Nine Inch Nails. Nesse espectáculo, parti o tornozelo logo no início. Estava em cima da bateria, com um macacão que é usado na caça e que me fazia parecer um arbusto (bush). Tinha cordas nos sapatos, por baixo dos pés. Como nunca o tinha usado, nem me lembrei das cordas. Quando saltei ficaram presas e parti o tornozelo.

Tinha tanta adrenalina no sangue que só me lembro de pensar “Isto é tão estranho, não consigo andar, mas consigo correr!”. Acabei por fazer tudo. Usei saltos altos, andei em cima das pessoas… Lá acabei por ir para o hospital e nas semanas a seguir comecei a dar concertos de cadeira de rodas!

Cadeira de rodas? Essa é nova…

Na verdade não é, até há algma tradição. O Andrew W.K fê-lo. E depois vimos a Lady Gaga a fazer o mesmo, mas estava a copiar a Bette Midler, que fazia de sereia, sabes. Mas a minha performance foi porque… tinha partido o tornozelo! E eu fiquei… “Wheelchair show!!”. E chamei um amigo que é um transsexual lindíssimo, para ser a minha enfermeira nua, que me passeava pelo palco. Nessa altura tive também uma Peaches falsa, que entrava no palco ao mesmo tempo que eu me punha a anda com a cadeira de rodas. As pessoas ficavam surpreendidas.

Onde é que arranjaste a cadeira de rodas?

Arranjámos a cadeira de rodas no aeroporto de Londres… Porque eu tinha um tornozelo… Bem tu sabes! Então consegui falar com ele para me emprestarem a cadeira de rodas, até aparecer o carro que me viria buscar. Assim que elas chegam vejo que era uma carrinha, pegámos na cadeira de rodas e mandámo-la lá para dentro. O dono da carrinha ficou todo “Acho que isto não pertence aqui…”. Disse-lhe que a trazíamos de volta, mas acabámos por pintá-la de rosa.

As tuas letras só falam de sexo e confrontam alguns mitos. Qual é a tua filosofia, por que é que escreves músicas com um significado tão intenso?

Acho que o mainstream devia pensar mais como eu. Acho que toda a gente deve ser capaz de ser o que quiser ser. Sei que isto soa um bocado como uma “hippie dippie” forma de pensar, mas volto sempre a este pensamento porque acredito mesmo que se as pessoas se compreenderem melhor a si próprias… Vão enfrentar menos preconceito por parte das outras pessoas ou ter de confiar menos em religiões ou formas de pensar machistas. E isto é assustador para as pessoas e assusta-me que as assuste. Assusta-me que as pessoas tenham tanto medo de ser elas próprias.

Como é que consegues combater esse medo?

Eu luto contra esse medo a tentar moldar. Moldar, mudar o comportamento. Faz parte de mim.

O teu primeiro CD chamava-se Teaches of Peaches. Tentas ensinar?

Nem tento ensinar, nem tento dar sermões. Faço-o à minha maneira, com as minhas performances, as minhas músicas e também a passar discos. Por exemplo, as pessoas estão tão habituadas a ver um DJ homem a controlar a cabine, mesmo que não sejam as músicas dele, o que quer que seja. No ano passado na lista TOP100 dos melhores DJ’s americanos, da DJ Magazine, não havia nenhuma mulher.

Em mais do que um concerto começaste aos pontapés a homens. Odeias homens?

Também dou pontapés em mulheres. Não odeio homens. Odeio pessoas que me tentam chatear. Num concerto tive uma miúda a morder-me o polegar, que tive de a expulsar do concerto. Tive um gajo a tentar agarrar a minha “pussy”… Tive de lhe partir um microfone na cabeça! Só estou a agir naquele momento.

Não és uma artista de rock puro, com banda, bateria e guitarras. Usas outros instrumentos e andas por outros géneros musicais, mas tens a atitude rock. Como é que me podes descrever esta forma de ser?

Isto significa que tens de te mandar lá para fora, sair do teu conforto, dar 500% de energia e ser espontâneo. Tens de respeitar a arte de ser espontâneo, mas também foder tudo à tua volta. Foder sempre tudo à tua volta.

Então as pessoas podem lutar contra o medo de serem elas próprias… Com esta atitude?

A única maneira de te livrares do medo de ser quem és… É dizeres a ti próprio que tens de te livrar desse medo e tentar! Basta tentar! Ninguém nasce sem medo de nada.

Entrevista: Miguel Leite
Fotografia: Hilfiger Denim 

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