Chegámos tarde e a más horas, muito por termos vindo directos de Lisboa para o recinto, com uma breve passagem pelo sítio onde iremos ficar alojados. Uma fila gigante para se trocar o bilhete por pulseira (“É normal no primeiro dia..”), uma limitada zona de comes à entrada que desemboca num verdejante parque, a fazer lembrar uma mini-Bela Vista, ou uma margem do Tabuão um pouco mais plana. O Sol fazia o seu papel, sem grande brilho, numa tarde que se adivinhava chuvosa mas que apenas fez umas pequenas gracinhas aqui e ali.
Olhamos para o palco e percebemos que chegámos a tempo de ver os últimos acordes de Bradford Cox, ou melhor, Atlas Sound, projecto a solo deste que é parte integrante dos Deerhunter. Sem puxar por aí além pelo público, até porque o estilo musical não o permite (pelo menos a estas solarengas horas), o artista percorreu os seus três álbuns, dando claro primazia ao último, Parallax, de 2011.
Poderíamos ter ido buscar uma cerveja nesta altura, era esse o ritual de quase todos os festivaleiros (chama-se festivaleiro a um gajo que vai a uns concertos no meio da cidade?), mas o nosso fígado não estava a querer isso de forma alguma. Correspondemos, e fomos buscar algo para nos dar energia para o resto da noite, um belo de um Red Bull, porque ainda faltava muito para os grandes The Rapture, o grande nome do dia.
Seguiu-se Yann Tiersen, um enorme e polivalente bicho musical, que encanta a fatia culta e conhecedora deste público maioritariamente estrangeiro e hipster. Parece-nos bem, o violino, as melodias que se constroem e se voltam a destruir, num corropio de pensamentos, emoções e horizontes, numa clara demonstração do quanto Yann deveria estar numa sala fechada, para poder, aí sim, mostrar o seu repertório decentemente. A chuva faz questão de marcar presença nesta altura, o que nos faz recuar até ao abrigo mais próximo e nos distancia da imensidão sonora vinda do palco, onde os 6 músicos continuavam a explodir em demonstrações sonoras de categoria.
Seguem-se os The Drums no palco ao lado. Os meninos de Brooklyn estão de volta a terras Lusas e ainda nos vêm apresentar Portamento (confessam que já andam em tour há 3 anos e que não vêm a hora de encontrar a cama). O vocalista Jonathan Pierce canta directamente do seu mundo autístico, numa dança e postura que bebe influências de Ian Curtis. A música, essa cai de forma repetitiva, num concerto que nos pareceu algo morno, não fossem os singles “Money” e “Let’s Go Surfing” a agitar as hostes. A 2ª foi aliás a música que fechou o concerto, o que só demonstra o quanto as pessoas se mexeram. Tudo bem, é pop sorridente, por vezes soturna, não será necessariamente para mexer os pés. Mas tudo isso seria esquecido tivesse havido alguma interacção com o público, uma coreografia mais pensada, algo, sei lá!
Espaço para os Suede, banda britânica formada no final da década de 80′, que esteve inactiva durante alguns anos e que agora volta em todo o seu esplendor. É uma banda que está, denunciadamente, numa onda diferente do Festival como um todo. Ainda assim, conseguimos ver muita gente a cantar as músicas, de fio a pavio, nesta enorme massa humana que preenche o verdejante Parque da Cidade. Dizem os que cantam que o concerto foi muito bom e também ficamos com essa impressão, dada o mar de gente que não arredou pé durante todo o espectáculo.
Ouve-se um feedback no palco ao lado, feedback que durou uns bons 15 minutos a ser interceptado pelo rock alternativo-psicadélico dos Mercury Rev. Algo ingrato o papel deste conjunto Norte-Americano, a substituir Explosions In The Sky, uma das bandas mais desejadas em todo o cartaz. A banda está longe dos seus tempos de glória, muito porque marcou uma geração que hoje em dia já pouco põe os pés num festival. Ainda assim, a banda entrega-se de corpo e alma ao público, sobretudo através do vocalista Jonathan Dohanue que está constantemente a repôr o seu cachecol no sítio, sempre em gestos dramáticos e épicos. Altura agora de ouvir uma dissertação de um membro da plateia, que divaga sobre o quão idiota é o ser humano – estão 4 em cima do palco e milhares cá em baixo a ouvi-los tocar uns instrumentos. O que diriam os seres de outros planetas? Alheios a isto estiveram os Mercury Rev, que fizeram bem o seu trabalho, dando motivos para sorrir tanto a conhecedores como a não-conhecedores.
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Chega então o grande momento da noite, The Rapture, que nos vinham apresentar o último trabalho “In The Grace of Your Love”. Começaram tarde, tanto que o vocalista Luke Jenner fez questão de perguntar “se ainda estávamos acordados”. E sim, estávamos. Acordados e prontos para dançarmos até finalmente cair, já que este era o último concerto do dia. O rock afunkalhado e apunkalhado dos Nova-Iorquinos não se fez esperar, liderado pela voz por vezes esganiçada de Jenner e o baixo grave e portentoso de um baixista que até agora não conseguimos identificar quem é, que se fazia acompanhar de um chapéu da PMA (Positive Mental Attitude, uma espécie de instituição do movimento straight-edge). Já Gabriel Andruzzi mostrava-se muito descontente com o facto do seu material não estar a funcionar correctamente quando o concerto começou, mas rapidamente entrou no espírito do público, solucionados que estavam os problemas. Começaram com a fantástica “In The Grace of Your Love”, o que os pôs logo nas boas graças do amor da plateia, onde houve espaço para crowd-surfing, empurrões dançarinos e até uma adepta mais ferverosa a mostrar o seu soutien preto. Foi sobretudo na recta final que houve maior adesão, quando “Sail Away”, “Miss You” e “How Deep Is Your Love” vieram em catadupa, pondo todos os presentes em êxtase. Um concerto bom, dançável e potente, mas não se apresentando candidato a melhor concerto do Festival, talvez por alguma falta de empatia ou aproximação do público. Foi só bom.
De realçar ainda que segundo a organização entraram 20.750 pessoas até às 23h, dos quais mais de 60% tinham passe de 3 dia e seriam na sua maioria público estrangeiro.
Texto: João Pacheco
Fotos: Miguel Leite
