Ontem arrancou a 18ª edição do Super Bock Super Rock. Fomos a abrir de Lisboa e, chegados ao recinto, sentimos logo que este primeiro dia não seria igual a anos anteriores. A estrada estava vazia, os parques sem confusão, um campismo com poucas tendas e os comes e bebes com pouca afluência. Podiam ter aumentado o recinto, melhorado os acessos… Mas não. O Super Bock Super Rock estava vazio.
Com uma sensação dividida, fomos dando os primeiros passos na esperança que a explicação fosse o dia, ou a hora e lá seguimos com alguma pressa para ver os Salto, que tinham sido anunciados dois dias antes à última hora.
O trio esteve à altura do palco principal, não defraudou as expectativas, mas havia ainda pouca gente na plateia. Estiveram certinhos na maior parte do tempo, mas houve algumas falhas (azares com cordas partidas e alguns nervos) numa ou outra música. Ouviu-se o single “Deixar Cair”, que a parca plateia reconheceu, um coro ainda tímido em “Coração Bate Fora” e um final forte com “Por Ti Demais”.
Era agora hora de dar uma volta pelo recinto, enquanto os Capitão Fausto preparam o estaminé. O pó continua a fazer parte do festival, apesar dos esforços da organização para contrariar isso mesmo. As pessoas não se estão a queixar tanto, mas acredito que seja apenas por haver menos gente. Agarrámos uma cerveja, dirigimo-nos ao palco principal, e eis que surgem os putos Fausto, com muita pompa e circunstância, num concerto que todos os presentes concordaram ter sido de arromba.
Muita genica por parte dos alfacinhas, que se iam divertindo a trocar de instrumentos e a partilhar percussão num alegre corropio em “Raposa”, e uma excitação geral quando se ouvem os primeiros acordes de “Teresa”. A nosso ver, os putos fizeram vini, vidi vici ao palco principal, e com uma grande pinta. Quisémos ver ainda um pouco dos Alabama Shakes, que iam encantando a pequena plateia que acorreu ao palco secundário para ver os Americanos em animada galhofa à volta do seu rock blues.
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Sem muito tempo para ver o concerto em condições, fomos fazer a primeira visita ao palco electrónico onde Dam Funk estava em modo trio a começar. Na plateia vimos DJ Ride, curador da tenda electrónica neste primeiro dia que nem pai babado perante uma das suas influências musicais. Ainda assim, percebia-se o seu desalento face à parca plateia que marcou presença para sentir o groove de Dam Funk.
Por esta altura estava a arrancar a banda liderada por Kele. Os Bloc Party, um nome que já não atrai tanta gente, mas que mesmo assim conseguiu compôr um pouco mais a plateia do palco principal. Apresentaram temas do novo trabalho “Four” que está para sair há mais de dois anos e que tem data de release marcada para 12 de Agosto. Temas novos à parte, foram músicas como “Helicopter” e “Hunting for Witches” que aqueceram mais a noite. Destaque para aquela que foi a frase da noite, proferida por um estrangeiro, que comentava o facto de haver mais pessoas no fosso que público propriamente.
Apetece-nos agora ir viajar ao som de Apparat, este que é um mestre das travessias melódicas e dos ambientes musicais. O público presente parecia saber ao que ia, já que muitos apreciavam o concerto de olhos fechados. É inegável a abilidade do produtor e muitos são os que saíram da tenda a dizer que terá sido o melhor concerto do dia. Ainda fomos espreitar Bat For Lashes, mas a música estava algo morna para o nosso gosto e não fícámos muito tempo.
Esta era a altura do grande teste. Os Incubus, cabeça de cartaz, preparavam-se para actuar e o Super Bock iria ter o primeiro grande teste da 18ª edição. O concerto começou e começamos a andar, tranquilamente, sem confusão e apertos, ao contrário de anos anteriores. As nossas suspeitas confirmavam-se: o primeiro dia do Super Bock Super Rock tinha sido um flop em termos de afluência. O que até pode nem ser uma coisa má, pelo menos para quem está do lado do público.
No palco, um Brandon Boyd carcomido pelo anos, longe dos tempos áureos do S.C.I.E.N.C.E (1997) e do Make Yourself (1999) em que o facto de mostrar a barriga era sinal de concerto bem passado para muito boa gente. Fora nostalgias, Brandon deu um concerto energético, numa viagem a temas que chegaram a ser pequenos hinos como “Drive” e “Are You In?”, sem esquecer a apresentação do útlimo disco.
Dirigimo-nos a Flying Lotus, onde o portentoso produtor começa o seu muito aguardado live, numa toada bastante mais dançável do que se poderia esperar. Algo distante das suas malhas de beats interlaçados e a apostar mais num bpm alto o suficiente para pôr toda a gente em modo discoteca. Como não queremos perder nada, demos alguns passos ao lado para o palco onde os Battles já tinham começado a tocar.
Houve gente a queixar-se da falta de sincronização do som, da voz não se ouvir o suficiente, mas até estávamos a gostar. O ponto alto foi definitivamente “Atlas”, mas houve momentos em quase todas as músicas apresentadas. A parafernália de instrumentos é surpreendente e mete inveja a qualquer um. O som aliado à imagem que vai sendo projectado no fundo, faz as honras da conversação e vai pondo todos os presentes num transe ritmado e cheio de força.
Seguimos finalmente para Hot Chip, que começa a umas horas já algo tardias, para um público já muito, muito escasso. A frente de palco está acessível sem grandes problemas, mas a banda parece totalmente indiferente à quantidade de pessoas. A música parece não levantar muita poeira por baixo dos pés dos resistentes, mas há energia para dar e vender em cima do palanque. Ouve-se “Over and Over”, vê-se muitas caras que alegremente gritam o refrão e algum pó a pairar, apesar da “relva” colocada pela organização.
A noite seguiu com Beatbombers, numa explosão de cultura hip-hop, Portuguesa e muita festarola. Hoje há mais e esperamos que com mais do que as 18 mil pessoas que marcaram presença no arranque do Super Bock Super Rock.
Texto: João Pacheco / Miguel Leite
Fotografias: Dumitru Tira
