Segundo dia de Super Bock, que não se adivinhava mais cheio do que no arranque, mas que tinha um cartaz substancialmente melhor, o que nos fez esperar mais do que na noite anterior. Para nós o dia começou com The Rapture porque não nos despachamos a tempo de Supernada. Os nova-iorquinos arrancaram com o indie dance que aqueceu o final de dia na Herdade do Cabeço da Flauta. Hora atípica para uma banda como o dos Rapture, mas que ficou plenamente justificada pelo encanto do vocalista Luke Jenner, que canta e faz guitar tapping ao mesmo tempo. A actuação começou com a “In the Grace of Your Love”, morna, mas foi aquecendo música a música. Fizeram desfilar a “Echoes”, a “House of Jealous Lovers” e a “Get Mysefl Into It”, temas que nos lembram que esta banda já tem uns aninhos – começaram em 1998 e o primeiro disco com hype saiu em 2003. O momento alto ficou, claro, para a “How Deep is Your Love” e lá tivémos de seguir para outras andanças.
Corrida para o palco secundário para apanhar o rock garage e o blues de Hanni el Khatib. O skater de São Francisco já cá tinha estado este ano no Mexefest do Porto, mas a actuação tinha sabido a pouco e queríamos mais. Pequeno nó no estômago à chegada,:plateia completamente despida, ambiente morno e desinteressado. Os riffs do disco Will the Guns Come Out foram caindo sem grande interacção e na verdade também sem grande resposta. Mas viram-se algumas bocas a cantar as músicas “Dead Wrong”, “Come Alive” ou “You Rascal You”. Nova corrida para o palco principal, agora para dançar e bater o pé do som dos Friendly Fires.
Entrou em palco sozinha (aparentemente, pois a orquestra estava na parte de trás sem nenhum foco a iluminá-los), naquele que era o grande concerto do festival. A grande questão era se a outrora Lizzy Grant estaria à altura do hype gerado em volta do álbum de estreia de Lana del Rey. Cedo se percebeu que sim, já que a voz saiu perfeitinha, como se tivéssemos a ouvir na aparelhagem lá de casa. Abriu com “Blue Jeans”, sentiu o audível coro e perdeu-se de amores pela plateia Portuguesa. “Normalmente não falo muito em concertos, mas vocês são e longe o melhor público de sempre!” atirou a bonitinha cantora, que trajava um curto e sensual vestido branco. Afável, conversadora e beijoqueira, o novo fenómeno pop passeou-se bem e tranquilamente pelo Meco, com grande destaque para os singles “Born To Die”, “Videogames” e ainda para uma música inédita intitulada “Body Electric”. Desceu ao fosso, cumprimentou imensos fãs e superou a prova dos nove com distinção. “I love you!” foi a frase proferida para fechar o concerto e despedir-se do público, cuja resposta foi uma óbvia exultação geral, em jeito de “We love you too!”.
Tempo agora de Oh Land, cujo concerto já começou no palco secundário. A Dinamarquesa é gira, carismática e tem uma portentosa voz pop. Quem lá esteve sabia bem ao que ia, pois tinham todas as letras de “White Nights” e “Son of a Gun” na ponta da língua. Comunicativa, feliz e sorridente, Nanna Fabricius foi fazendo o seu (bom) espectáculo de forma fluída e feliz. O seu colorido hábito era sem dúvida um dos pontos altos da personagem, que vinha acompanhada de mais dois músicos. Não havia mais tempo, porque queríamos ver Friendly Fires e já tínhamos visto Oh Land em ocasiões de Mexefest.
Pausa para abastecer com cervejas porque já se ouvia Ed Macfarlane, dos britânicos Friendly Fires, a agradecer ao público que começava a aproximar-se. Com 7 elementos em palco, incluindo saxofonista e trompetista, a banda iniciou um desfile de canções que puseram em destaque o mais recente álbum Pala, mas não fizeram esquecer o álbum homónimo de estreia. Macfarlane não se deixou intimidar pela pouca energia da multidão. E isso viu-se na camisa de folhos totalmente encharcada em suor e nos cabelos molhados num esforço de maratonista para aquecer as hostes. Com o seu estilo aprumadinho, dançou sem pudores com passos entre o ataque de epilepsia e o ultra-cool, num jogo de cintura elástico e desconcertado que rapidamente contagiou os presentes. Do novo registo, rodaram temas mais conhecidos como “Blue Cassette” ou o pegajoso “Hawaiian Air”, intercalados com outros sabidos na ponta da língua, como os energéticos “Live those days tonight” ou o intimista “Hurting”. O colectivo electropop manteve-se no controlo de um som aditivo, com um baterista visivemente divertido e sem mãos a medir em malhas de ritmo acelerado. O vocalista e produtor brilhou ainda commo seu falsete cristalino, sem falhas nem notas fora do lugar, em canções bem recebidas do disco de 2008 como “Skeleton Boy” ou “Paris”, para terminar com o grandioso “Kiss of Life”, em modo de despedida inflamada e percussiva que confirmou que a banda está pronta para conquistar qualquer palco principal.
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O concerto da noite ainda não tinha chegado e a miss Maya era esperada no palco principal. Arranque estranho, com música muito Bollywood e aparentes problemas técnicos ou atrasos no palco durante quase 20 minutos. Paragens de música, antecipação, alguns assobios e lá se ouve finalmente o primeiro microfone. M.I.A como se esperava, de calções laranja e casaco anos 90. M.I.A acompanhada de duas mulheres e um dançarino estranho, que parecia arrancado da Rússia na altura da guerra fria. Primeiros passos de dança e finalmente vemos o Super Bock a ser um festival de Verão. Toda a plateia a dançar de Galang e com um baixo que dava pica ao festival. Entrada da “Paper Planes” e plateia cheia a cantar “All I wanna do…” de mãos no ar em forma de pistola. M.I.A de pernas magras, em forma, em cima de uma grade e a cantar em cima do público. Ritmos quentes para um festival morno, com o climax na “Bad Girls” e o swag de M.I.A a dar um dos melhores concertos deste ano.
Começava agora o último concerto da noite, The Horrors, que inicialmente terá sido ofuscado pela concerto da imprevisível M.I.A. O indie gótico e algo sortuno dos Britânicos vai fazendo as delícias dos poucos que fizeram questão de comparecer. Alguém dizia horas antes que não percebia o porquê de haver alguma gente vestida de preto, mas deve ter dissipado todas as dúvidas após cheirar os “horrores”. A banda destacou sobretudo o último álbum, Skying, que foi muito bem recebido pela crítica, cujos highlights são as grandes “I Can See Through You” e “Still Life”. O cansaço já se estava a apoderar dos nossos corpos, mas pareceu-nos que os The Horrors fizeram o seu trabalho, ainda que possam ter exagerado algo no reverb. A poeira esteve bem assente no chão o tempo todo, mas isso nem sempre é sinal de tempo mal passado.
Texto: João Pacheco, Miguel Leite e Pedro Lima
Fotos: Dumitru Tira
