Eram dois, tornaram-se três e hoje em dia já são poucas as pessoas que ainda não ouviram falar deles. Lançaram o álbum de estreia, homónimo, há uma semana e até já foram apresentá-lo a um festival de verão. Foi quase demasiado o tempo que tivémos de ficar à espera para podermos meter as mãos no “Salto”. Depois de os ter visto em quase todas as capelinhas de Portugal, a ansiedade de ter as músicas na aparelhagem cá de casa já era grande.

A primeira vez que ouvi o álbum, de uma ponta à outra, fez-me pensar na quantidade de coisas que me consegue dizer. Se por um lado ouço a música “Deixar Cair”, que abre o álbum e apetece-me saltar pela casa fora, chego a “Sem 100” e fico boquiaberto com o groove dubstepiano que em nada se assemelha ao indie-pop com pitadas de pós produção que o single nos mostra. Mas os Salto conseguem também ser mais melosos em “Poema de Ninguém” ou mais experimentais em “888:88”, dando-lhes um espectro de possibilidades enorme para o futuro. Se por um lado há bandas que têm imensa dificuldade em evoluir o seu som, porque optaram pela homogeneidade na sua música, o problema dos Portuenses vai ser mais qual dos inúmeros caminhos seguir.

E com isto eu não quero dizer que o álbum é composto por 4 músicas, porque ainda há mais malhas que merecem tanto ou mais destaque. Posso começar em “Por Ti Demais”, que tem servido de cartão de apresentação do dinâmico duo desde 2010, passar pela cintilante “Canção Diagonal”, que me faz lembrar um passeio lúcido subaquático e ainda a ritmada “O Teu Par”, a dar razões para dar corda aos pés ao bom jeito indie dançável. Inicialmente achava que “Intro (Saber Ser)” dividia o álbum ao meio, como que se fossem dois tipos de canções diferentes (um bocado à imagem da Gazela dos Capitão Fausto), mas rapidamente me apercebi que a intersecção é contínua. Ora temos “Não Vês Futebol”, faixa cantada sempre com uma nuvem electrónica a pairar por trás, como rapidamente chegamos a “Arcade”, que nos leva para um jogo 8-bit das arcadas da terrinha, daqueles em que metemos a moedinha (será que vem daí o nome?). Não posso deixar de mencionar, claro, as letras – simples, cuidadosas e pensadas. Com a nova vaga de de bandas cujas letras acabam por não conseguir estar ao nível das melodias, os Salto fazem-nos lembrar Manuel Cruz na sua capacidade inata de transmitir divagações líricas.

Há, ainda assim, algumas coisas que não me deixam totalmente extasiado. Noto algum exagero no que toca aos pormenores computadorizados (e perceba-se que estou a falar de coisas muito pequenas perante a grandiosidade das músicas),  sinto o Guilherme (o vocalista) bastante mais comedido em algumas partes da letra do que a música o permite e fico meio chateado com o facto de não ver “O Tempo que Mudou” na tracklist. Talvez não quisessem ter 13 canções, por respeito às superstições!

Concatenando e concluíndo, o primeiro álbum dos Salto é um espanto e tenho a certeza que ninguém conseguirá dizer o contrário. “Deixar Cair” arrisca-se a ser o hino deste Verão, neste que vai ser o disco da estação. A música dos Portuenses é feliz, solarenga e divertida. E para quem os conhece, sabe que é honesto aquilo que lhes sai da alma e que a simpatia que a música transmite é sincera e genuína. É cedo para imaginar o que o futuro lhes reserva, mas com a recente aquisição de Tito Romão para a bateria, parece-me que estão guardadas coisas boas.

Salto – Salto (8/10)

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João Pacheco

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