Os PAUS abriram o palco Optimus, no dia mais quente (e mais ventoso) do Optimus Alive. A farta plateia (atendendo à hora do dia), esteve bastante animada com o concerto da nova banda de culto Portuguesa. No palco com a sua bateria siamesa, Joaquim Albergaria e Hélio Morais juntamente com Shela e Makoto, iam encantando os “madrugadores” festivaleiros. “Mudo e Surdo” surgiu e os aplausos fizeram-se ouvir, seguida de um “Deixa-me Ser” que teve direito a dedicatória por parte do Hélio, depois de ler uma carta vinda de um fã muito especial minutos antes de entrar em palco. “Estou a ver pouca gente de tronco nu! Está tudo muito vestido aqui na frente” foi o repto lançado por Albegaria antes de tocarem “Tronco Nu” e “Pelo Pulso” (que levou o Hélio para um crowd surfing em jeito de wrap up do concerto).

Logo de seguida, Luke Pritchard e os “seus” The Kooks subiram ao palco Optimus, começando de imediato a cantar o tema “Seaside”. A banda britânica mostrou que voltava a Algés para mais um concerto em que a música seria a prioridade máxima. Pritchard mostrou ser um “performer” percorrendo cada milimetro do palco principal do festival, apelando às palmas e à participação dos milhares de espectadores presentes neste último dia. A banda tocou temas dos seus três trabalhos, com especial destaque para “Shine On”, “Is It Me”, “Do You Wanna” ou “Ooh La”. Para fim ficou guardado o seu grande êxito “Naïve” que encerrou o concerto dos britânicos.

Depois de Miles Kane foi a vez das californianas Warpaint subirem ao palco secundário. O concerto começou sem aviso, com Theresa Wayman ajoelhada no chão, soltando cantos chamânicos a partir dos seus pedais de loop. O quarteto feminino voltou a Portugal, depois de um concerto competente em Paredes de Coura, para apresentar o seu aclamado álbum de estreia The Fool. Em Algés o concerto ficou marcado por alguma desconcentração, ruído de feedback, guitarras ondulantes XX-ianas e vocais algo desafinados de Wayman. Situação apenas salva pela loira Emily Kokal que, com a sua voz preciosa e atitude cativante, convenceu o público que acompanhou letra a letra o grunge elegante de “Composure”, a emoção expelida de “Elephants” ou a melancolia dopada de “Undertown”.

Quando começaram a tocar, ainda o dia se fazia tarde e o sol teimava em espreitar por baixo da tenda do palco Heineken. Com o pano verde todo ele ocupado por pessoas, os The Maccabees entraram em palco com uma vestimenta bastante mais escura do que o normal. Vinham apresentar o seu novo álbum, Given To The Wild, cujos portentosos singles “Pelican” e “Feel To Follow” vão sendo mostrados como excelentes cartões de visita. Com um público bem jovem e bem conhecedor, fez-nos acreditar que temos em mãos a nova banda fetiche do indie rock em Portugal. Os Arctic Monkeys ja atingiram a maioridade, os The Kooks ultrapassaram a barreira do colo e os The Maccabees ocuparam o vazio ao 3º álbum de originais. Algo espantados com a afluência de pessoas, a banda foi comunicando a espaços com o público, grande parte das vezes por iniciativa do vocalista, que a certa altura pediu para o público cantar os parabéns ao baixista, que agradeceu num cheers tímido. Sempre numa toada rock e épica, a banda britânica deu um dos melhores concertos do dia, com momentos altos em “First Love”, retirada do primeiro álbum, “Feel To Follow”, “No Kind Words” e “Pelican” a fechar o concerto.

Caribou foram os senhores que se seguiram no palco principal, que antecediam o grande nome do dia porque assim mandava a tour dos Radiohead. O Canadiano Daniel Victor Snaith tocou perante um público ansioso com o concerto seguinte, mas não se intimidou e conseguiu criar um bom ambiente enquanto o sol se punha em Algés. Com as suas batidas electrónicas e carregadas de sintetizadores, o canadiano puxou os presentes para um registo diferente daquele que foi apresentado pelos The Kooks, e que seria a passagem entre o indie e o alternative rock que viria a seguir. Na retina ficaram os temas “Sun” e “Odessa”, do último álbum, mas também os grandes êxitos de Andorra, dos quais temos de destacar os fantásticos “Niobe” e “Melody Day”. Não há grande surpresa neste concerto, já que as músicas foram entregues em catadupa sem grandes complicações nem grandes espalhafatos. Snaith terminou o concerto agradecendo o convite e a oportunidade de tocar no Optimus Alive, deixando por fim um “Have fun with Radiohead”.

A belíssima voz da Hope Sandoval começou a ecoar no Palco Heineken. Plateia cheia para os Mazzy Star, muita gente sentada, num concerto que se adivinhava mais instrospectivo. Começou com as guitarras de “Blue Flower”, com Hope Sandoval a cantar “Waiting for a sign from you, waiting for a signal to change”. Os temas continuaram a cair a um ritmo meloso, com um público atento, rodeado por gigantescas filas de pessoas que tinham aproveitado para jantar antes do concerto da noite. Mesmo assim, as baladas “noventeiras” encheram-nos as medidas, principalmente quando entra uma das músicas mais bonitas da década de 90: “Fade Into You”. Principalmente quando as guitarras semi-acústicas começam a tocar em lá, passaram para mi, si menor e ré, num processo delicioso, repetitivo. Acompanhado de um pequeno sólo e daquela voz apaixonante e doce a prolongar a palavra “fade” como ninguém consegue e a terminar o refrão de uma forma que dá vontade de mexer a cabeça e sorrir ao mesmo tempo. Hit terminado, autêntica debandada do palco secundário para o palco principal, que deixou a plateia de Mazzy Star mais decomposta.

E eis que chega o momento por que todos esperavam. O concerto que sozinho esgotava um festival. Mais de 55 mil pessoas frente a um palco para assistir ao regresso de uma das maiores bandas do século XX depois de 10 anos sem visitar Portugal: os Radiohead.

O colectivo rock desafiador de géneros surgiu com a sua formação inicial. Thom Yorke, Ed O’Brien, Phil Selway e os irmãos Jonny e Colin Greenwood estão juntos há 27 anos. Muito mais que a maioria dos casamentos. Mais ainda que a grande mancha adolescente que ali se encontrava. E isso sente-se na cumplicidade de cada nota, na entrega total do quinteto a cada canção de catarse emocional.

“Bloom” abriu o concerto ansiado, introduzindo o mais recente álbum The Kings of Limbs, e fez de tudo para aconchegar o incrível falsete doloroso de Yorke nos nossos ouvidos sedentos. O cantor é hipnótico na sua performance. Danças descordenadas, feições deformadas em expressões de lamento, ânsia e desespero que dão a cada canção uma realidade dolorosamente palpável.

Mas uma selecção cuidada do espólio da banda agradou a toda a gente. Dos 8 álbuns editados só o primeiro Pablo Honey foi deixado de lado. Durante cerca de 1 hora e meia, a banda geriu as emoções da plateia com a ajuda de ecrãs gigantes, com imagens repartidas de todos os elementos, que catalizavam estados de espírito da mais saudosa melancolia com tons de azul e verde, à explosão virulenta das guitarras selvagens e bateria propulsiva pintada a vermelho-sangue. Entre o alinhamento, minutos que se irão eternizar nas nossas cabeças como os sentidos “Weird Fishes/Arpeggi” de In Rainbows, “Pyramid Song” e “I Might Be Wrong” em dose dupla de Amnesiac, “Climbing up the Walls” de Ok Computer ou um arrepiante “Nude” (que quase nos levou às lágrimas), revisitando In Rainbows, disco que introduziu a experimentação electrónica e que trouxe novos fãs à sonoridade dos britânicos. Curta pausa para restabelecer a pulsação porque ainda nos esperavam dois encores, onde desfilaram temas muitos aplaudidos como “Lucky”, “Paranoid Android” (Ok Computer) ou o desbravado “Idioteque” (Kid A) a entregar-nos uma versão possuída de Thom Yorke em espasmos contagiantes. Para o final, o vocalista ainda reconheceu “10 anos talvez sejam demasiado tempo”, despedindo-se com um magistral “Street Spirit (Fade Out)” do álbum de 1995 The Bends.

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SBTRKT começou a tocar ainda estava Radiohead em múltiplos encores. O londrino marcou 2011 com uma música electrónica inteligente e acompanhada de boas vozes. Era, portanto, uma das principais incógnitas da noite.  Em palco, SBTRKT e Sampha, o vocalista que gravou vários temas do último disco e acompanha a tour quando a perfomance é live – e não dj set. Logo à segunda música atiram-nos com Hold On e prendem-nos logo ali ao concerto. Sintetizador único, batida calma e a voz de Sampha a ecoar pelo palco Heineken, que se começava a compôr. O pés continuaram a bater e o público a reagir cada vez mais, a dançar, a assobiar com alegria. Via-se que conheciam SBTRKT, que esperavam aquelas músicas, que queria ouvir os londrinos a disparar todas as músicas do disco homónimo de SBTRKT. Claro que o momento alto foi a entrada do tema Wildfire – que pena não estar ali Little Dragon -, interpretado de uma forma diferente, acompanhado de uma bateria live (tocada pelo próprio SBTRKT) e com um arranjo diferente, especialmente para aquele concerto. Apesar de ter enfrentado alguns problemas técnicos, SBTRKT deu-nos o que queriamos. Fica só a nota para a duração do concerto, que podia ter sido bem maior.

Chegava a hora de The Kills, uma das bandas mais desejadas do cartaz do Palco Heineken, que têm dado que falar com o mais ou menos recente single “The Last Goodbye”, que aliás foi o momento mais alto do concerto, mas mais sobre isso adiante. A hora não terá sido melhor, visto estarmos a falar de um domingo e por ser esta uma banda com já uma década de existência – maior parte dos fãs tinham de trabalhar no dia a seguir. Ainda assim, houve casa cheia (salva de palmas para a resistência!) para assistir ao regresso da banda composta por Alison Mosshart e Jamie Hince, que se não nos falha a memória quebra um hiato de 4 anos em visitas ao nosso belo território. A vocalista, já sem o look característico, optando agora por um cabelo de tons aloirados, continua impecável em cima das suas botas negras, com o mesmo carisma que lhe assistia nos tempos de “Cheap and Cheerful”. Mas a dupla não veio sozinha e fez-se acompanhar de dois percussionistas, enchendo o palco física e sonoramente, e de um painel em tons de leopardo na parte de trás. Abriram o concerto com a “No Wow”, a faixa que dá nome ao segundo álbumda banda, num ritmo sempre frenético mas sem deixar de ser emotivo.  A gigantesca salva de palmas que lhe seguiu fazia prever que isto era concerto para deixar mossa, a dar o aviso claro à organização que isto talvez fosse banda de palco principal. Seguiram-se “Future Starts Slow”, a portentosa “Heart is a Beating Drum” e mais à frente a deliciosa “Tape Song”. Numa química incrivel, Alison foi lentamente criando uma paixão assolapada pela plateia, que se tornou especialmente visível quando a cantar a mais recente “The Last Goodbye” (o single mais recente dos britano-americanos) um adepto mais ferveroso terá desmaiado mesmo na frente da massa humana. Preocupada, a vocalista parou de cantar e não recomeçou até assegurar-se que alguém da equipa de seguranças tratava do rapaz, que entretanto soubémos estar bem e muito agradecido à impressionante atitude de Alison. Ao recomeçar, dedicou-lhe a música, naquele que foi o momento mais aplaudido (e mais emotivo, para dizer a verdade) do concerto. Chegou mesmo a haver um abraço entre Jamie e a vocalista, numa espécie de conforto emocional perante a alegria desmesurada da Americana. VV (nome de luta de Alison) atirou-se depois a “Pots and Pans”, “Fuck The People” e “Monkey 23”, num regresso nostálgico aos álbuns mais antigos, músicas que fecharam um dos melhores gigs deste Optimus Alive 2012.

Batiam então as 3 da manhã de Domingo quando os Metronomy entraram em palco. Depois de terem estado cá no ano passado, em Paredes de Coura, a apresentar o novo álbum, os ingleses voltavam agora para fazer o mesmo mas na capital. Muita gente presente, ainda que muitos deles tivessem que trabalhar no dia a seguir, o que foi de resto comentado pelo vocalista – “Do you have to work tomorrow? Forget about that”. As músicas foram caindo, hits atrás de hits de todos os álbuns (até do remoto Pip Paine (Pay back the £5000 you owe), com “You Could Easily Have Me”). Aos primeiros acordes de “The Look”, houve uma exaltação geral naquela que é o grande hino dos Metronomy, mas é também necessário dar destaque a “The Bay”, “Radio Ladio” e “Everything Goes My Way” (onde a bonita baterista assume papel principal). Era palpável a excitação da composta plateia, mesmo depois do retorno dos Radiohead e das actuações de The Kills e SBTRKT. Aliás, a hora tardia foi algo que a própria banda fez questão de confessar ter medo ser preponderante na decisão de dormir ou ficar – “We were kind of scared of playing at 3AM on a Sunday, but a lot of people showed up!”. Um grande e digno concerto que fechou este Optimus Alive 2012 com chave de ouro, numa setlist que só pecou por ser curta.

Texto: Pedro Lima, Miguel Leite, João Pacheco e Vítor Gonçalves
Fotografias: Dumitru Tira e Fernando Figueiredo Silva (Metronomy)

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