Os Minta & The Trout editam esta semana o segundo longa-duração de estúdio, Olympia. Uma colecção de canções que traçam tangentes entre Lisboa e a América do Norte, sobre os sentimentos humanos que mais ligam desconhecidos: as amarguras do coração.

Foi em 2008 que quarteto Minta & The Brook Trout, formado por Francisca “Minta” Cortesão (voz e guitarra), Mariana Ricardo (voz, baixo e ukulele), Manuel Dordio (guitarra eléctrica e lap steel) e Nuno Pessoa (bateria e percussão), surgiu no radar com o EP You, seguindo-se em 2009 o longa-duração homónimo e a derradeira confirmação que estávamos perante um enorme talento. Canções escritas a quatro mãos entre Francisca e Walter Benjamin como “If You Choose To Run”, “If She Can’t” ou “When to Stop”, rapidamente conquistaram corações num driblar de emoções cruas sobre inquietude e infortúnios que ruminavam nas cordas doridas de uma guitarra acústica.

Seguiu-se Carnide, gravado ao vivo nesse bairro lisboeta no ano seguinte com um palco cheio de cúmplices no ofício: Márcia, Noiserv, BlackBambi, Walter Benjamin e João Cabrita. Esta semana chega-nos às mãos o tão esperado Olympia, o segundo LP com selo da Optimus Discos.

Navegando pelos territórios alternativos da folk e da música country, os Minta continuam a criar canções ternas que confortam como uma manta quente no Inverno à volta dos ombros. Música tocada com recurso à guitarra e ukulele, que se entregam a cada nota com a mesma ingenuidade e sinceridade com que amigos trocam segredos à volta de uma fogueira. Olympia é, no seu todo, um álbum de temas nostálgicos, aveludados pela voz cremosa de Francisca Cortesão, acompanhada aqui e ali pelo timbre ameno de Mariana Ricardo. Mesmo quando canta o sofrimento de uma separação, como no single inaugural “Falcon”  — que contou com Afonso Cabral e Salvador Menezes (You Can’t Win, Charlie Brown), Madalena Palmeirim (Nome Comum) nos coros e uma secção de sopros liderada pelo saxofonista João Cabrita — a vocalista encara a dor de peito erguido, com guitarras cúmplices, num balanço levemente latino e lânguido de Tango sofrido.

Mas é sabido que a tristeza sempre gerou grandes canções. “The Right Boulevard”, “From the Ground” (onde a dupla de vozes de funde como mel) ou “Devil We Know”, uma das minhas favoritas com os seus teclados luminosos e percussão preparada para arrancar passos de dança tímidos, são exemplos perfeitos deste lamento tão belo quanto desarmante. Já em canções como “Family”, “Future Me” ou “Blood and Bones”, a banda deixa entrar o sol pelas frestas da janela, com pandeiretas vivas e espírito folk caloroso, refrães sonhadores que encobrem o sofrimento da letra com notas que parecem sorrir-nos e vozes que se aninham com preguiça felina nos ouvidos.

Produzido por Mariana Ricardo e Francisca Cortesão, após uma digressão pela Costa Oeste do Canadá e EUA com They’re Heading West, projecto paralelo com João Correia (Julie & The Carjackers) e Sérgio Nascimento (Humanos), tem a América do Norte e Lisboa no miolo das canções e dos arranjos. Gravado e misturado em Paço de Arcos por Nelson Carvalho, Olympia foi acabado em Phoenix, no Arizona, onde foi masterizado pelo veterano Roger Siebel (Bill Callahan, Dodos, Laura Veirs, Elliott Smith, M. Ward).

O lançamento do álbum está agendado para o próximo dia 20 de Setembro no Salão Nobre do Conservatório Nacional (Bairro Alto).

 

Minta & The Brook Trout – Olympia [7/10] 

Pedro Lima

Subscreve a Punch TV!