A noites de verão em 2021 ainda são curtas. As restrições da pandemia ainda se fazem sentir. Contudo a aposta de muitos espaços é nas matinés, nas esplanadas e nos espaços ao ar livre. A Casa Capitão, situada no Beato é o exemplo perfeito disso. Já em 2020 quando ainda não sabíamos como iria evoluir a pandemia, foi um dos locais que promoveu a música ao vivo e soube dinamizar o circuito independente. Este ano, além do terraço, também abriu uma sala adjacente, a Fábrica do Pão, onde também vão começar a haver concertos de maior dimensão, mas sempre dentro das regras estipuladas.


Os concertos no terraço servem como banda sonora a uma conversa descontraída entre amigos. O espaço amplo não proporciona um ambiente intimista, mas dependendo da banda e como ela agarra o público, pode ser gerada uma dinâmica interessante. Os Ganso souberam aproveitar isso. Toda a entourage da Cuca Monga estava presente, percebia-se pelas camisas às flores, vestidos em cor pastel e por um ou outro cabelo surfista à Liceu Francês.

A banda subiu a palco muito descontraída e sem grandes adereços. O destaque ia para o vocalista, João Sala e as suas jardineiras. A sua cabeleira e as suas feições continuam a fazer lembrar Kurt Cobain. A sintonia entre os membros também sobressaem desde da primeira canção. Amigos de longa data fazem deste concerto uma jam session, onde as canções são mostradas com outras roupagens e adaptadas ao espaço em questão. Resultam e mostram como são talentosos.

Os Ganso são uma banda indie pop, mas conseguem transformar-se em poucos acordes numa banda de jazz. A mestria está aí, na mistura de géneros e como moldam a sua música de forma tão fluída. Neste concerto, por vezes fizeram lembrar os Badbadnotgood. O clarinete e o saxofone também acrescentaram outras camadas, que levam o grupo para outros universos, mais desafiantes e com uma identidade muito própria. Talvez sejam territórios a explorar no futuro.

Toda a atuação passou pelos temas clássicos dos dois álbuns da banda, “Pá Pá Pá” e “Não Tarda”. Foi curto, mas bom. As tardes sabem sempre a pouco e aparece a noite que pede sempre para continuarmos. Quem quisesse e tivesse bilhete, podia ir ver o concerto de B Fachada, mesmo ali ao lado na Fábrica do Pão. Mas naquele momento não restavam outras hipóteses, só dava para ir para casa. A música continua ser um alento. Esperemos que em breve noutros horários mais tardios.

Texto: Rodrigo Toledo

Fotografias: Beatriz Sampedro