A entrada na fase adulta é feita de incertezas, inseguranças e incógnitas. Os Salto são jovens adultos, que sentem na pele esta entrada na maioridade e, sobretudo, o que é viver no limbo que é o meio artístico. A consequência desta realidade é um mar de emoções inquietantes e por vezes pouco agradáveis. Contudo, Guilherme Tomé Ribeiro e Luís Montenegro conseguem mostrar perseverança e lançam agora o seu terceiro álbum como Salto, Férias em Família. Ao fim de dois anos de várias experiências e participações noutros projectos, este consegue ser, até a data, o trabalho mais conseguido e objectivo da banda do Porto, que agora tem a sua base em Lisboa.

Quem é músico em Portugal tem de se saber adaptar à realidade em que vive, que por vezes é intensa, mas noutros momentos pede tempo para assentar novas ideias, descobrir novos mundos e procurar novos significados. Do segundo álbum para cá, os Salto estiveram envolvidos noutros projectos pessoais, onde ganharam outras bases e sonoridades. O Guilherme, além de ter tocado com Moullinex, também pode descobrir-se como GPU Panic e UhAhUh, projectos com uma vertente puramente electrónica e que deram para extravasar. Por seu turno, Luís também teve oportunidade de se mostrar como Lewis M. e tocar com os Rapaz Ego. Estes projectos laterais podem não ter tido uma grande dimensão, mas foram essenciais para os músicos se enriquecerem a nível artístico e perceberem com o que se sentem confortáveis.

Este novo disco dos Salto é sobretudo um disco mais maduro a nível de produção e rumo conceptual. É uma evolução que mostra o que querem e marca uma posição. Continuamos a perceber que são os Salto, ali, mas com outras vivências, e isso torna tudo mais interessante a nível sonoro e lírico.

Nas letras, percebemos que há uma certa fragilidade, talvez por situações que vivem a nível pessoal ou, talvez, pelas dificuldades que sentem como banda. Contudo, o imaginário da banda está também muito assente numa dream pop, com a qual transmitem um lado sonhador e inocente, presente, por exemplo, quando cantam “sonhamos todos os dias” na canção “Teorias”. Esse sentimento é sempre acompanhado pela sensação de estarem a crescer demasiado rápido e a chegarem a uma fase adulta, onde há provações que não estavam à espera. Esta é uma realidade de alguém que começa a perceber o quão difícil é singrar seja em que área for. E se for numa área artística ainda mais.

Os Salto voltam sem fazer estrondo, mas com vontade de fazer tudo bem feito. Este disco prova que, apesar de estarem sempre a sonhar, as suas cabeças não andam sempre no ar. Para se ser artista é preciso sonhar, mas também estar consciente do tamanho dos seus sonhos. As dores de crescimento fazem parte do processo, mas os Salto já podem deixar de sonhar, porque a realidade sorri-lhes.

Nota: 8.0/10

Rodrigo Toledo