Batida também conhecido como Pedro Coquenão apresenta esta sexta-feira no CCB a sua mais recente performance The Almost Perfect DJ. Mais do que um DJ, Batida é um divulgador dos ritmos africanos, um artista provocador e um curioso que explora novos mundos, sonoridades e personalidades.  Antes desta actuação, com um conceito algo aliciante e misterioso, fomos falar com o DJ para sabermos o que vai apresentar no CCB.

Como é que este concerto no CCB difere de outros concertos apresentados por ti no passado?
Não sendo um concerto, num mundo perfeito isto será um desconcerto. É uma performance que representa a forma como vejo o DJ e o dancefloor hoje. A ideia de sermos todos personagens secundárias, iludidas com a importância que têm. Penso que será uma rara oportunidade de alguém poder assistir à performance um DJ sem ter de se mexer, quanto mais dançar. Pode bem ficar sentadinho. O bilhete é muito acessível, as cadeiras confortáveis e alcatifa foi mudada há pouco tempo. Adorava poder beneficiar deste espectáculo como público, na verdade. Tudo foi feito a pensar em quem assiste. Desafia a dançar, claro. Como desafia a pensar. Mas cada elemento do público é que decide o que quer e como quer fazer. Até pode estar ao telemóvel e a melhorar o seu perfil e desempenho social nos media, desde que não incomode as pessoas em seu redor. O artista pouco interessa. O artista é que tem de trabalhar. Afinal, ele é pago para ali estar, enquanto o público paga para estar presente. Ia-me esquecendo… há também um acto de abertura, um pouco gratuito, como bónus.

#thealmostperfectdj #aolharparaoboneco

Quando decidiste fazer esta compilação qual era o teu objectivo?
A resposta que batia seria a de que foi só para auto-promoção. Andamos a apreciar, ou pelo menos deixamos passar, muitas afirmações estúpidas, só porque são sinceras. A resposta que me condena ao papel de romântico, é a de que fiz por gostar de juntar, de imaginar juntas, pessoas de e com diferentes interesses. E, como qualquer geek, nerd, jornalista, radialista, DJ, adoro a sensação de poder evidenciar algo que sinto como óbvio, mas que ninguém parece reparar ou dar tanta importância quanto eu. Seja uma banda lendária e incontornável como os Spaceboys, o jovem Nazar ou a revelação que foi ouvir originais do Celeste Mariposa.

Lisboa e arredores sempre beberam destes ritmos que apresentas neste novo trabalho?
Lisboa foi feita entre copos, corpos e ritmos diferentes. Mais tarde, a zona metropolitana também. As cidades que a circundam e completam são mais democráticas nesse sentido. #lisboanaoeumacena

É difícil apresentar as sonoridades da lusofonia ao público português?
Já foi mais, mas ainda é relativamente difícil. Soa mal, não é?! Parece-me mais difícil fazer o que os The Gift fizeram. Sendo lusofonia, deveria ser assumido como parte da nossa riqueza comum. Felizmente, o mundo não começa nem acaba aqui e podemos circular e viajar por onde houver amor, para sermos “descobertos”.

Qual foi o critério na selecção desta compilação, que vais editar em simultâneo com a apresentação deste concerto?
Não é um concerto [risos]. Nesta banda sonora de uma futura longa, documentário, temas compilados, tentei naturalmente misturar o máximo de ingredientes, proveniências, geografias e épocas. É só o Vol. 1.

Quando decides colaborar com outro artista, isso parte de uma afinidade cultural ou musical?
Normalmente começa por paixão, amor. Ou pelo menos uma declaração minha de paixão, amor.

A música pode ser um veículo para aprendermos mais sobre as culturas de outros países?
É uma pergunta retórica não é?! Escolhi músicas mas, acima de tudo, cada uma das pessoas e a sua expressão individual, que coabitam e contribuem para um espaço comum. Mais do que culturas, interessam-me  pessoas em particular.

Em Portugal já conseguimos aprender com a música de Angola, Moçambique, Cabo-Verde e dos outros territórios lusófonos?
Acho que Portugal viveu muito tempo a querer ensinar e até ditar muito e a aprender pouco. Ao mesmo tempo que manteve uma posição de acatar ou aceitar ser ensinado pelo resto do mundo. Acho que todos temos muito para aprender uns com os outros e que temos de nos descobrir, partindo de padrões antigos.

Apesar de tudo, já estamos mais abertos a conhecer outras culturas?
Parece-me que a tua pergunta parte do princípio de que há uma resistência. Concordo. Somos outras culturas, também.

Portugal é sítio ideal para acontecerem estes cruzamentos de ritmos, sons e identidades distintas?
Apesar de tudo, os cruzamentos dão-se. Em tempos idos, mais à força, hoje mais por mútuo interesse e, às vezes, por amor. Não considero nada tão distinto e distante. Vejo como familiar. Alguns fruto de casamento por conveniência, outros bastardos, alguns por amor profundo. Alguns herdam-se, outros escolhem-se. Acho que Portugal pode escolher ser um lugar distinto, em que essas distâncias não existam. Eu gostava muito de ver isso assumido de forma política clara. Começando pelas nossas leis e a forma de lidar com tópicos como as migrações, o racismo e as nacionalidades. Sermos inequívocos onde ainda há ambiguidade. Não nos contentarmos por sermos mais liberais do que, mas sermos mesmo melhores recebedores do que fomos invasores, traficantes, e sermos hospitaleiros como gostamos de ser migrantes, também.

Um DJ também pode ser um professor?
Sim, se o dancefloor aprender. #powertothedancefloor

Os radialistas perderam o seu poder de divulgação?
Perdemos radialistas com poder de divulgação. Ganhámos artistas com poder de divulgação.

Rodrigo Toledo