Dinho Almeida, Raphael Vaz, Benke Ferraz e Ynaiã Benthroldo formam uma das mais importantes bandas da cena indie do Brasil: os Boogarins. As Plantas Que Curam e Manual trouxeram até aos nossos ouvidos um psicadélico quente, capaz de nos levar a viagens longas, para além do espaço e tempo, e letras capazes de nos pintar de emoções. Lá Vem a Morte é o terceiro da discografia de uma carreira curta mas brilhante. O brilho não aumentou, mas podemos dizer que se manteve.

O psicadélico a lembrar Tame Impala e compadres sempre foi uma característica própria dos brasileiros. Neste álbum, essa imagem morre. Houve prévio aviso, com “Elogio à Instituição do Cinismo”, bem diferente do que a banda nos habituou a ouvir. O psicadélico, esse, continua lá, mas acrescentaram-se toques pop, electrónicos e experimentalismo em todas as paredes cheias de letras simples e directas ao assunto. Este trata da inevitabilidade da morte. Seja física ou psicológica, ou sobre o que for, a morte está na nossa rotina, mais do que, por vezes, conseguimos ver. E é esse o tema predominante de um disco que primeiro se estranha e depois se entranha.

“Foimal” e “Corredor Polonês” são as únicas capazes de nos relembrar os bons e velhos tempos da banda. Remetem-nos para os sons típicos, que nos fazem reconhecer os Boogarins ao primeiro acorde. A falta de familiaridade deixa saudades do antigo, não sendo por isso mau o presente. Nem necessariamente o é, já que esta exploração do experimentalismo, e da electrónica, está bem de saúde e recomenda-se. As diferenças são capazes de seduzir até os menos curiosos para este álbum, que marca, claramente, uma nova etapa na vida banda. No entanto, se fosse apenas possível utilizar uma palavra classificar Lá Vem a Morte, a escolhida seria agradável.

Depois dos dois últimos álbuns, esperava-se uma explosão e não uma difusão do que já conhecíamos. As óbvias influências d’Os Mutantes precisam de ser aprimoradas. Não ficou perfeito, mas intenção foi boa e resultou tanto quanto baste, já que a lógica e o talento estão lá e têm por onde se pegue. Apenas precisam de mais requinte para chegar ao estado perfeito. É, no entanto, uma mudança surpreendente, e que deu origem a uma evolução e exploração instrumental e musical interessante o suficiente para cativar e chamar a atenção de quem gosta de ouvir boa música. Não é genial, mas é suficientemente bom para nos fazer repetir a audição.

Nota: 7.0/10

Alexzandra Souza