A palavra de Gagliardini Graça surge num contexto especifico, onde há constantes referências às fragilidades nas vivências da juventude de hoje, onde há palavras de ordem para a emancipação e onde há espaço para a reflexão. Graça pertence aos Ciclo Preparatório e foi desafiado pelos seus agentes e amigos próximos a lançar material próprio. Relutante, lançou numa primeira fase o tema “Embalo”, que apareceu na colectânea Estou Bem Aqui em Portugal, da Azul Tróia, em 2016. Agora surge com o EP Cruz Quebrada, onde são apresentadas seis canções, tendo uma delas sido seleccionada para integrar o CD dos Novos Talentos FNAC de 2017“Mãe Não Sei o Meu Destino”.

Neste EP, mais do que uma primeira amostra, há uma vontade de desembuchar uma série de confissões, sejam elas decifráveis ou não. Aliás, muitos destes EPs de artistas mais independentes têm um tom confessional e intimista, sempre com vontade de falar com o público, de mostrar uma realidade que, apesar não ser nossa, até nos toca como identidade. Vemos aqui um jovem que, apesar de desorientado, procura o seu caminho, cheio de esperança e alguma ingenuidade. Cruz Quebrada está pensado com um propósito singelo, de nos apresentar um jovem músico, mas dá-nos uma produção cuidada, onde os sintetizadores são uma peça-chave. Os ritmos variam entre músicas, com uma energia alegre ou sons mais graves e prolongados. “Mãe Não Sei o Meu Destino” e “Cascavel” são os temas que se destacam, não só pela sua abordagem semântica, mas também pela sua produção. Em “Cascavel”, por exemplo, ouvimos solos de guitarra que nos enchem a alma. “A Paz Que Vive em Nós” é um verdadeiro hino para romper muitas perversidades.

Gagliardini Graça não se mostra totalmente neste EP, mas consegue abrir espaço para a sua realidade, cheia de anseios, luzes e uma busca inquietante pela serenidade.

Nota: 7.0/10

Rodrigo Toledo