Pensar na banda sonora de um filme pode ser um dos desafios mais interessantes. Escolher a música certa para o momento certo. Escolher a música certa para o sentimento que se quer transmitir. É um trabalho cirúrgico, mas que pode dar resultados muitos interessantes para o objeto final. No seu segundo álbum, Vida e Morte de D. Antónia, os Urso Bardo fazem uma abordagem quase cinematográfica à sua música, criando uma personagem e dando música a diversos momentos da sua vida. Há diversas circunstâncias que podemos identificar e isso faz com que seja um álbum com texturas diferentes. Enquanto ouvintes, somos levados para diversos cenários, o que revela quão rico e dinâmico o álbum é.

Os Urso Bardo são uma banda instrumental vinda de Lisboa. O álbum de estreia, homónimo, saiu em 2016. Este primeiro trabalho apontava em diversas direções, se calhar ainda muito colado a referências como os Dead Combo. Um álbum válido, ainda assim, que poderia antecipar álbuns futuros com experimentação de vertentes. Com dois anos passados surge então Vida e Morte de D. Antónia. Este álbum consegue trazer uma identidade mais clara para banda, que consegue construir músicas mais consistentes e preenchidas com personalidade. O trabalho feito em cada tema mostra uma abordagem mais cuidada da banda na produção do seu som e alguma maturidade a nível conceptual.

Os álbuns instrumentais, ou bandas, neste caso, são sempre um desafio por si só. A capacidade de construir uma canção com cabeça, tronco e membros, que soe de maneira distinta daquilo que já foi feito anteriormente por outras bandas é algo que exige especial criativividade e perseverança. Neste segundo álbum, os Urso Bardo conseguiram ter o engenho e a astúcia para moldar cada tema ao momento certo e dar um toque mais pessoal.

Se pudéssemos escolher uma palavra para este álbum seria a palavra dramatismo – para cada canção os Bardo conseguem construir um lado visual e dramático, que pode ser identificado pelo nome de cada tema, e isso remete-nos para o imaginário por eles construído. Mesmo dentro de cada canção é possível encontrar momentos que envolvem, onde existem altos e baixos e conseguimos perceber o que nos querem transmitir. Eles constroem um mundo e nós conseguimos entrar dentro dele. Conseguimos perceber que mostram uma sonoridade próxima da banda sonora de um filme mas que, neste caso, esta consegue viver sozinha, sem esse lado cinematográfico.

As músicas mais conseguidas são a “Ceifa” e “Dia D”, pois são estas que possuem uma construção mais conseguida e que nos levam por caminhos mais inesperados. Apesar de todas as músicas terem particularidades interessantes, há umas mais monótonas e outras mais vivas. Contudo, todo o álbum consegue ser coeso e funcionar bem como um todo.

A Vida e Morte de D. Antónia leva-nos por uma viagem e isso é já um bom ponto de partida. Nem todos os álbuns conseguem fazer isso. Há algo de misterioso nestas músicas, essa é a magia deste trabalho. Há espaço para cada música respirar e há espaço para conhecer um pouco da história da Dona Antónia, e um pouco da história dos Urso Bardo.

Nota: 7.5/10

Rodrigo Toledo