O segundo dum festival de três dias tende para o sabor agridoce. Se, por um lado, ainda estamos a recuperar do dia anterior, por outro não podemos abrandar o passo quando ainda nem vamos a meio – e ainda temos tanta música que queremos ouvir. Sob este mote, nesta sexta-feira, 12 de Julho, rumámos novamente até Algés para um dia em que o cartaz apelava ao público mais jovem, com Vampire Weekend ou Tash Sultana, mas que incluía também alguns nomes incontornáveis como Grace Jones ou Johnny Marr.

Este dia começou no palco Sagres, com RY X, mais uma estreia em Portugal patrocinada por este festival. De voz doce e melodias deleitosas, Ry Cumming suporta-se na sua banda para criar as camadas repetitivas que dão corpo às suas músicas, mas também assume os comandos em muitos momentos. Expressando satisfação por estar em Portugal, o australiano proporcionou um espectáculo morno, muito apropriado para o final de tarde. “Berlin” foi um momento de comunhão maior com o público.
A paragem seguinte foi no palco coreto, para ver Marinho. A cantautora portuguesa apresentou-se com a sua guitarra clássica, acompanhada pelo Pedro na guitarra eléctrica. Interagindo frequentemente com o público, Filipa Marinho não se coibiu de explicar a história por detrás de cada música (ou de pedir ajuda para lhes arranjar um nome), enquanto re-afinava a sua guitarra, sublinhando o apoio que é dado à música portuguesa e o voto de confiança que a Arruada nela depositou, ao trazê-la até este palco. Para o final ficou “Ghost Notes”, o single que connosco apresentou na Punch Sessions de Março, deixando-nos com a frase dreams are the only place where my feelings survive na cabeça.

Estava na hora de regressar ao palco Sagres para o concerto de Johnny Marr. Figura incontornável do rock (e dos The Smiths), Johnny mostrou-nos o seu domínio da guitarra e também a sua voz, assim como sua persona exuberante. O músico não se ficou pelos temas que gravou a solo nos últimos anos, passando por “There Is a Light That Never Goes Out”, mas cativando bastante também com “Easy Money”, perante a dança do público em geral. Esta festa não poupou idades.

No palco NOS tocavam os Primal Scream. O vocalista, Bobby Gillespie, apresentou-se integralmente de rosa choque, presenteando-nos com os grandes êxitos da carreira da banda icónica do rock alternativo, que está há mais de 30 anos no activo. Tratava-se do aquecimento do público para os ritmos que se seguiriam neste palco, dos americanos Greta Van Fleet. Este quarteto, formado por três irmãos e um amigo de longa data, estreou o seu hard rock em Algés quando a noite finalmente caía. Semelhanças com Led Zeppelin à parte, o piso tremia literalmente com as batidas fortes das suas músicas. Mesmo para os adeptos menores deste estilo, foi fácil reconhecer a competência desta jovem banda, que deu um concerto bastante sólido perante fãs acérrimos nas primeiras filas.

Entretanto, começou no palco Sagres o concerto de Tash Sultana. Menina de apenas 24 anos, a australiana apresentou-se sozinha em palco, mas passou por muitos dos 15 instrumentos que sabe tocar, num ritmo frenético mas de quem sabe perfeitamente o que quer fazer no momento seguinte. Surpresa enorme perante uma tenda que transbordava de pessoas que correspondiam totalmente ao que se passava em palco. Sem dúvida uma artista a não perder de vista.
Era fácil de prever que o concerto mais aguardado deste dia, por parte duma enorma fatia de público, era o dos Vampire Weekend. Estes subiram a palco sob um enorme globo, referência óbvia ao seu mais recente registo Father Of The Bride. Este chegou seis anos depois do anterior, precisamente a duração do interregno da banda por Portugal. O público estava eufórico e desconfiamos que saltou ao ritmo das músicas durante toda a duração do concerto. O regresso da banda acontecerá já em Novembro, no Coliseu de Lisboa.
Abandonámos os vampiros para termos o privilégio de vermos mais um ícone. O palco Sagres cobria-se com uma tela preta para aumentar o suspense sobre o espectáculo previsivelment cénico preparado por Grace Jones. Aos primeiros acordes, a tela foi retirada e Grace surgiu qual rainha no topo de umas escadas (e de uns brilhantes stilettos), com uma máscara dourada e uma caracterização à qual só as fotografias conseguem fazer justiça. Hoje com 71 anos, a super-modelo jamaicana mantém o dom de agarrar o público não só pela sua figura andrógina, mas também pela sua poderosa voz.

Os Gossip regressaram a Portugal como cabeças de cartaz deste segundo dia de festival. Perante uma plateia menos cheia do que acreditamos que esta banda merece, Beth Ditto interagiu imenso com o público e lamentou consecutivamente o facto de não falar português – e de ainda não ter encontrado a Madonna por Lisboa, também. O alinhamento percorreu músicas dos seus álbuns, sendo o mais recente A Joyful Noise (2012), que foi seguido de um hiato em que Beth seguiu uma carreira em nome próprio. O espectáculo teve como momentos maiores as óbvias (mas não menos saborosas por isso) “Standing in the Way Of Control” e “Heavy Cross” – esta última reservada para o final do concerto e com direito a abracinhos de Beth na primeira fila do público. Com um discurso marcadamente político ao longo do concerto, no qual Beth qualificou a Europa de “esperança dos americanos”, as palavras com que nos deixou foram “Fuck Trump!”.
Mais uma madrugada, e mais uma banda a desafiar o avançado da hora com a sua música dançante. Foi no palco Sagres que os Cut Copy, ainda que vestidos de meninos bem comportados, exacerbaram movimentos e nos contagiaram com os seus ritmos de electro-pop misturados com a sua sensibilidade indie rock. O trio australiano demonstrou a satisfação por regressar ao nosso país, numa das curtas pausas entre músicas.
A nossa fotogaleria completa do 2° dia está aqui!
11/Julho | 12/Julho | 13/Julho
Texto: Andreia Duarte
Fotografia: Joana Viana