“São pessoas de cristal, levam sempre tudo a mal”, este podia ser mote para descrever uma geração que entrou na idade adulta entre duas crises, primeiro financeira e agora pandémica. Tiago Plutão lança o seu primeiro álbum, “Relativizar”, e procura dar respostas para certas angústias. Na canção, “Pessoas de Cristal”, mete o dedo na ferida e abre o jogo em relação aos seus contemporâneos. Vivemos uma fase difícil mas talvez o melhor seja mesmo relativizar.
Este álbum serve como uma reflexão interior, Plutão olha de fora para um grupo de pessoas que estão a entrar nos trintas e acabar os vintes. Percebemos que não passam por uma fase fácil das suas vidas. Aquele que devia ser um momento de estabilidade, ainda é de muita incerteza. O tom nunca é dramático, mas há um sentimento de estranheza, como se ninguém estivesse confortável na própria pele. A canção “Dias Estranhos” fala da incerteza, fala de confusão e fala sobretudo destes tempos fora do comum.
Outro aspecto explorado nestas canções é a vulnerabilidade. Hoje mais do que nunca estamos mais vulneráveis, mais expostos e mais frágeis. O mundo anda a uma velocidade que não conseguimos acompanhar. “Patinho Feio” e “Homem da Montanha” são dois temas que procuram explorar este peso muito próprio de uma sociedade moderna. Sentimo-nos feios, sozinhos e ás vezes completamente sujos. Uma pressão que por vezes só existe na nossa cabeça. Tiago sente isso, tal como uma geração inteira.
A música que destaca-se é “A forma não importa”, e de facto vivemos numa sociedade que liga mais à forma que ao conteúdo. Este canção tem conteúdo, Tiago Plutão tem conteúdo. Isso mostra que devemos estar atento ao que vai fazer. E as suas reflexões mostram ser oportunas.
O jovem músico de Lisboa canta em português, um imperativo para quase todos os novos artistas. A influência dos Capitão Fausto, do estilo da “Nova Lisboa”, de pessoas como Dino Santiago, Nenny, Pedro Mafama, Conan Osiris, entre outros, veio mostrar que a nossa língua tem uma grande versatilidade. Neste caso sente-se que Plutão ainda está um pouco preso a algumas referências e a um psicadelismo, que começa a esvaziar-se. Contudo sente-se a sua voz sincera neste trabalho e há uma narrativa bem construída.
Este álbum é uma forma de passar cá para fora uma visão do mundo, uma libertação de vários sentimentos. Há uma certa solidão e uma incompreensão em relação ao que se está a passar. Mas há um coisa que nos faz sentir melhor, Tiago ajuda-nos a compreender melhor o que se passa connosco. “Relativizar” é uma forma de estar e nós gostamos disso.