Um fim de tarde de calor leva-nos à igreja. Não fomos rezar para pedir o fim da pandemia. Mas para ouvir as palavras do pastor, Elias Bender Rønnenfelt, o vocalista dos Iceage. O concerto a solo do músico dinamarquês aconteceu na Igreja de St. George em Lisboa e guiou-nos para uma viagem melancólica, mas ao mesmo tempo crua e sincera.
Neste iniciativa da ZDB, proporcionou-se um momento quase único, talvez um dos raros concertos de artistas internacionais em Lisboa, este verão. Rønnenfelt tem andado a viajar pela Europa sozinho, também porque a sua banda ainda não tem possibilidade de tocar em espaços maiores ou festivais. Na mala trouxe temas dos últimos álbuns dos Iceage, “Seek Shelter” (2021) e “Beyondless” (2018), entre outra surpresas.

O músico dinamarquês chegou uma semana antes do concerto e a ligação à capital portuguesa não é uma surpresa. Os Iceage gravaram o seu último álbum, na cidade das sete colinas, mais especificamente no estúdio Namouche. A curiosidade para ouvir vocalista era muita e encheu os bancos da igreja.
O arranque da celebração começou com algum atraso, são precisos uma ou duas canções para para o próprio Elias sentir-se bem com a acústica do espaço. Nas escadas de acesso ao altar vai dando o sermão à sua maneira. Não são criadas grandes ilusões, apenas a sua voz e duas guitarras acústicas bastam para sentirmos o que nos diz. A meio ainda há oportunidade de ser acompanhado num dos temas por um pequeno sintetizador, que é tocado pelo artista Sonic Boom. O espaço é apropriado aos temas apresentados e à aura do artista.
Rønnenfelt, ainda teve oportunidade de apresentar um tema que compôs esta semana em Lisboa. O encore também surgiu uma outra canção não ensaiada. A voz sofrida, a camisa aberta, o suor são pequenos sinais de um artista que luta consigo mesmo e as suas angústias. Fomos à igreja e saímos com a certeza que professamos a fé certa.