A palavra “Kalorama” tem as suas origens na expressão grega para Bela Vista – o nome do parque que acolheu a estreia deste novíssimo festival. O manifesto deste anuncia que “Há uma nova era à espreita. Uma que sabe saborear cada momento como ele verdadeiramente é – único e irrepetível. Uma era que chega com sede de tocar, de olhar e de sentir.” – e nós usufruímos disso mesmo, ao longo de três intensos dias de festival.

Dia 1 – somos os robots e dançamos

O primeiro dia começou pelas 17h, com Rodrigo Leão, a sua banda e os seus convidados a inaugurarem o palco principal, MEO. Rodrigo Leão, nome com mais de 40 anos de carreira e reconhecido por muito mais do que a sua contribuição para os Madredeus, viu a plateia do palco salpicar-se, a pouco e pouco, de público. Trouxe-nos algumas das suas melodias mais familiares, como “Pasión” e aqueceu-nos o coração para o que se seguiria neste dia.

Subimos a colina para ver os Fred a estrear o palco Futura, perante uma plateia bastante composta. Este quarteto de jazz é encabeçado por Fred Ferreira, baterista e produtor conhecido pela sua contribuição em projectos como Orelha Negra, Oioai ou Buraka Som Sistema. Com sonoridades entre o jazz e o hip-hop, Fred tiveram uma sólida prestação nos 40 minutos de concerto.

James Blake ao piano no Meo Kalorama

No palco principal, James Blake apresentou-se com dois elementos adicionais: um percussionista e um teclista que também contribuiu nas cordas. A dança e as ovações começaram imediatamente. A quarta música foi “Limit to your love”, cover da canadiana Feist que quase (quase) nos faz esquecer a original. Esta música relembrou-nos a sensibilidade e delicadeza presentes na voz de James, que resultam inesperadamente, também, num palco tão grande quanto o principal. Esta música foi a deixa para James se dirigir pela primeira vez ao público, dizendo que sentiu a nossa falta e está feliz por voltar, finalmente, after the couple of years we had. Convidou-nos a participar e ensaiou-nos para “Say what you will” (lead single do álbum Friends that break your heart, 2021), proporcionando um momento bonito de comunhão. Pelos 40 minutos de concerto, James Blake revisitou “CMYK” (2010) que transformou a plateia numa pista de dança desinibida, sob as palavras Look I found her / red coat. Guardadas para o último trecho da hora concerto, estavam “Retrograde” (Overgrown, 2013) e “Godspeed” (cover de Frank Ocean), esta última simples e emotiva, assim, apenas com James ao piano. A setlist, essa, foi direitinha para uma fã que envergava um cartaz Setlist please James na primeira fila.

Os míticos Kraftwerk trouxeram ao palco Colina o seu espectáculo 3D, que nos ajudou a viajar no tempo enquanto público caracterizado com os óculos brancos, distribuídos à entrada, para usufruir dos efeitos especiais nas imagens que iam surgindo nos ecrãs. Criados nos anos 70 por Ralf Hütter e Florian Schneider, os alemães Kraftwerk retêm o estatuto duma das bandas mais influentes da electrónica até aos dias de hoje. Com quatro elementos em palco, entre eles Ralf, cada um dedicado à sua mesa, fomos tão transportados no tempo que sentimos músicas como “The Robots” (The Man-Machine, 1978) ou “Autobahn” (Autobahn, 1974) tão actuais como se tivessem sido lançadas na última década.

2 Many DJ's no MEO Kalorama

Quando passámos pelo palco MEO não encontrámos nem os 2 Many DJ’s, nem o Tiga, apesar de termos registo fotográfico dos parcos minutos que o concerto infelizmente acabaria por ter. Assim, seguimos para o palco Futura e encontrámos Jake Shears, former frontman dos Scissor Sisters. Este apresentou-se em forma, apesar de confessar o nervosismo por já não tocar num festival há algum tempo. Em conjunto com a sua banda de suporte, recuperou uma série de êxitos com mais de dez anos, como “I don’t feel like dancin’” (Ta-Dah, 2006) ou “Filthy / Gorgeous” (Scissor Sisters, 2004), maioritariamente caracterizadas pelo falsete de Shears. O público acedeu, cantou e dançou.

The Chemical Brothers no MEO Kalorama

De volta ao palco MEO, The Chemical Brothers abriram os hostes com “Go”, quiçá a relembrar os festivaleiros que ainda havia muito para dançar, sob o mote Oh, no time to rest / Just do your best / Oh, what you hear is not a test / We’re only here to make you go. É bonito ver este espaço de configuração naturalmente peculiar coberto de multidão até às suas íngremes laterais, toda a dançar ao mesmo ritmo – e foi esse o caso neste concerto com cerca de 90 minutos, o mais longo deste primeiro dia de festival. Sucessos dançáveis como “Hey boy hey girl” (Surrender, 1999) ou “Galvanize” (Push the button, 2005) foram pintados com frases orelhudas e suportados pelos efeitos visuais nos ecrãs e, também, pelos familiares robots gigantes em palco.

Já no palco Colina, o trio Moderat começou o concerto com a voz de Sascha Ring (Apparat) e a música “Reminder” (III, 2016) e o seu Burnin’ bridges light my way. O inebriante refrão “More love” (More D4ta, 2022) seguiu-se no alinhamento, embalando os corpos da plateia. Foi o teaser dos primeiros acordes de “Bad Kingdom” (II, 2013), mérito da parte Mode Selektor do trio, que despertou o público de forma mais séria. Qual grito de guerra do nosso reino, cantou-se, em uníssono, This is not what you wanted / Not what you had in mind. Tanto a qualidade do som, como o facto de o concerto ter sido encurtado para não exceder as duas da manhã, deixou-nos apetite para voltarmos a ver estes alemães em nome próprio. Talvez não por acaso, a banda escolheu “A new error” (Moderat, 2009) para fechar este concerto que coroou o primeiro dia do MEO Kalorama.


Dia 2 – problemas de identidade

O segundo dia de MEO Kalorama trouxe ainda mais público ao parque da Bela Vista. Foi notoriamente o dia com maior afluência, o que se notou desde as primeiras horas de festival. As t-shirts dos Arctic Monkeys eram muitas, relembrando-nos que eram estes os cabeças de cartaz mais aguardados.

The Legendary Tigerman no MEO Kalorama

O primeiro nome do palco MEO era The Legendary Tigerman, stage name do camaleónico Paulo Furtado. O músico já se dedicou mais aos blues e hoje dedica-se mais ao rock e ao punk, fazendo-se acompanhar de três elementos em palco nesta mais recente fase. Foi um concerto que percorreu muitos dos seus temas mais conhecidos, como “These boots are mande for walkin’” (na sua versão, retirada de Femina, 2009) ou “Motorcycle boy” (Misfit, 2017). The Legendary Tigerman prometia um concerto hot hot hot e a plateia, já consideravelmente composta, correspondeu ao ritmo forte das suas músicas. “21st Century Rock ‘n’ Roll” (True, 2014) encerrou o concerto, que durou cerca de uma hora. A expressão rock ‘n’ roll foi repetida até à exaustão por Paulo Furtado, à medida que este descia ao fosso, percorria o corredor e usufruía dum banho de multidão.

Jessie Ware no MEO Kalorama

Findo o concerto de The Legendary Tigerman, subimos até ao palco colina para ver Jessie Ware apresentar o seu mais recente álbum, What’s Your Pleasure (2020). Foi precisamente com “Spotlight”, desse mesmo disco, que Jessie inaugurou o concerto, devidamente acompanhada por dançarinos e back up vocals que a acompanhavam nas coreografias sincronizadas – algo que acabou por caracterizar o concerto como um todo. Para além do mais recente álbum, o concerto também incluiu sucessos como “Wildest Moments” e “Running” (ambas de Devotion, 2012), naquela que foi uma festa pop que contou com bastante participação do público.

Entretanto começava no palco MEO o concerto dos britânicos Blossoms, com a sua pop new wave que até visualmente transporta para os anos 70. Se neste palco muitos fãs estavam de pedra e cal à espera dos Arctic Monkeys, também no palco Colina houve público que chegou bem antes da irlandesa Róisín Murphy subir a palco.

É difícil não querer ser Róisín depois de ver um concerto seu, mais ainda hoje do que quando era metade da banda Moloko. Róisín é mais do que música: é entretenimento, é sensualidade, é moda, é energia. O ritmo de Róisín é estonteante, entre dance moves que incluem air kicks recorrentes, trocas de roupa e acessórios sucessivas, olhares intensos e investidas de ponta a ponta do palco – sem comprometer a parte vocal.

A banda que acompanha Róisin Murphy é extremamente competente e alimenta a história que esta constrói com a sua performance, como se notou, por exemplo, na “Incapable” (of love), que se construiu num tease que muito demorou até se concretizar. Esta foi a segunda música do concerto, que começou de mansinho com “Something more” (ambas pertencem a Róisín Machine, 2020). Viagem no tempo (e outfit change, claro, qual borboleta em metamorfose) para “The time is now” (Moloko’s Hit Machine 28, 1999), com uma guitarra clássica inesperadamente muito presente. Houve espaço também para Forever More (Moloko’s Statues, 2003), apresentando-se qual leão incandescente, de clássico fato rosa e uma juba condizente.

Os baixos dançantes estiveram sempre presentes, distanciando também a experiência de concerto da audição dos álbuns. Para o final estava reservada “Sing it back” (Moloko’s I am not a doctor, 1998), com um abandono precoce de Róisín e sua voz – os músicos saíram um a um, retirando estrategicamente camadas à música até que apenas o beat restou, até este cessar – estava na hora do Ártico.

Os Arctic Monkeys escolheram o MEO Kalorama para o seu único concerto por Portugal neste ano – e escolheram “Do I Wanna Know?” (AM, 2013), com o seu mote crawling back to you, que nos pareceu bastante adequado à situação. A banda britânica, encabeçada por Alex Turner, celebra este ano 20 anos de actividade e, nesse tempo, evoluiu em termos de sonoridade para além do ponto de não retorno. Há quem gostasse deles mais indie, e se agarre aos seus primeiros dois álbuns (até 2011), há quem prefira a viragem que AM (2013) indiciou e Tranquility Base Hotel & Casino (2018) concretizou. Alex Turner e companhia tiveram a mestria de usarem estes quase 90 minutos de concerto para agradarem a ambos, com uma mistura de temas mais e menos recentes. “The View From the Afternoon” (Whatever People Say I Am, That’s What I’m Not, 2006), “That’s where you’re wrong” (Suck it and see, 2011) ou “Why’d You Only Call Me When You’re High?” (AM, 2013) conviveram no mesmo set que a ainda não editada “I Ain’t Quite Where I Think I Am” (The Car, final de 2022). Esta mistura trouxe mudanças de velocidades consideráveis mas, mesmo as mais antigas, tinham um sabor mais arrastado, quanto a nós contagiado pela fase actual da banda.

Foi sem dúvida a maior moldura humana até ao momento, com tanto público que muitas pessoas optavam pelas colinas mais altas para assistirem ao concerto ao relento, com tanta dedicação como se estivessem nas primeiras filas, junto ao fosso.

“505” (Favourite worst nightmare, 2007) começou sorrateiramente até explodir e fazer transpirar os fãs, com a saída da banda, mas o verdadeiro fim, com o encore, seria “R U mine?” (AM), cantada em coro pela multidão. Fechava assim um concerto pautado por poucas intervenções de Alex Turner mas que encheu as medidas dos fãs que acorreram ao parque da Bela Vista.

O também britânico Bonobo encerrou o segundo dia do palco Colina. As suas raízes estão mais próximas do trip-hop, mas os anos mais recentes aproximaram o DJ e produtor de influências jazz e world music, que conferem às suas músicas sonoridades bastante orgânicas. Álbuns como Black sands (2010) ou Migration (2017) proporcionam experiências auditivas verdadeiramente imersivas.

Durante este concerto, Bonobo fez-se acompanhar por uma extensa e multifacetada banda (seriam nove?!), entre percussão, sopros, cordas e voz. Assistir ao vivo à adição das várias camadas que reconhecemos às músicas de Bonobo é como assistir à construção de uma instalação artística – um privilégio. Na recta final do concerto, Bonobo chegou a estar sozinho em palco, mas parte da sua banda ainda regressaria para encerrar o concerto.

Enquanto nos preparávamos para abandonar o recinto, ainda Bruno Pernadas e a sua extensa entourage tocavam no palco Futura, transportando o público com as suas longas e labirínticas músicas, que pareciam querer perdurar pela noite dentro.


Dia 3 – reis já há poucos

Pelo terceiro e último dia de festival, já se tinha tornado rotina subir até ao parque da Bela Vista, encher o copo de cerveja e começar a ouvir concertos ainda de dia. Respirava-se tranquilidade, antes da tempestade de emoções que nos avassalariam mais tarde, em Nick Cave & The Bad Seeds – lá chegaremos.

Moulinex no MEO Kalorama

Moullinex, o alter ego de Luís Clara Gomes, subiu ao palco Colina com mais três músicos: GPU Panic, Gui Salgueiro e Diogo Arranja – e não avisaram Diogo, o baterista, que o dress code era branco. Era notória a entrega da banda, que parecia estar a divertir-se tanto em palco quanto a plateia que polvilhava a inclinada colina, que rapidamente começou a agitar as ancas ao som dos contagiantes beats duma série de êxitos familiares. Destacamos a dengosa e muito especial “Minina di céu”, que conta com a voz (virtual) de Sara Tavares.

Ornatos Violeta no MEO Kalorama

Os Ornatos Violeta voltaram à vida, mais uma vez, para subirem ao palco MEO, confirmando-nos que os seus concertos dos últimos anos são sempre de celebração. A banda encabeçada por Manuel Cruz tem o dom de ter ditado o ritmo das dores da adolescência de várias gerações e, talvez por isso mesmo, dividiam-se muito as idades dos fãs que entoavam músicas que já quase adquiriram o estatuto de hinos. “Deixa morrer”, “Dia mau” (que recomeçou sob o vernáculo de Manuel, que se enganou na letra à primeira tentativa), “Ouvi dizer” ou “Capitão romance” foram algumas das músicas que caracterizaram este intenso concerto, que contou com crowd surf do muito amado vocalista. “Pára-me agora” encerraria o concerto, muito à propos.

Este terceiro dia de MEO Kalorama sofreu ajustes de horário e não tornou as decisões mais fáceis. Enquanto Peaches celebrava os 22 anos do icónico álbum The Teaches of Peaches, entrando no palco Colina com um andarilho, chocando os mais incautos com a sua nudez e tentando caminhar sobre a multidão, também havia festa a acontecer no palco Futura.

Os alemães MEUTE definem-se como uma techno marching band (vestida a rigor), com os seus onze músicos que se dividem entre a percussão e os sopros e assumem a missão de serem DJs apenas com instrumentos acústicos. Esta banda proporcionou a maior enchente a que assistimos neste palco, com uma festa pegada que ia para além do espaço destinado à plateia. Destacamos especialmente a “You & Me”, original dos Disclosure que é também reconhecida pela remistura que os Flume lhe fizeram.

Nick Cave & The Bad Seeds no MEO Kalorama

Chegadas as 21h, o festival concentrou-se exclusivamente no palco MEO – nada mais havia no calendário até às 23h15. Nick Cave & The Bad Seeds entraram de rompante com as palavras “Get ready for love” (Abattoir Blues / The Lyre of Orpheus, 2004) e Nick a descer até à multidão das primeiras filas. Quem o ouviu queixar-se de que era um long way to my band, as escadas que separavam o palco da plateia, não conseguiria antever que a sobre-entrega de Nick Cave duraria para além das 2h15 de espectáculo – e que espectáculo avassalador foi este.

Os 14 anos que separam o último concerto em Lisboa e este foram intensos e também cruéis para o australiano Nick, e desconfiamos que os seus álbuns e sua postura em concerto são a sua particular forma de terapia – a nossa, pelo menos, foi. Este concerto marcou o final duma tour intensa com cerca de três meses, mas a frescura e a intensidade com que toda a banda se entregou não o denunciou.

Pelas palavras de Nick, a story of love gone incredibly wrong, “Jubilee Street” (Push the Sky Away, 2013) trouxe-nos Warren Ellis ao violino. Warren, multi-instrumentista e peça-chave dos Bad Seeds desde 1994, partilha uma muito especial relação criativa com Nick, que está retratada no recém-lançado documentário “This Much I Know To Be True”, que se debruça sobre a gravação de Ghosteen (2019) e Carnage (2021).

Para além da forma quase visceral como dá a voz aos seus temas, Nick preocupa-se em introduzir a maioria deles, em relacionar-se com o público e tornar a história também deste – e também em trazer alguns dos seus músicos, como os seus back up vocals também para junto deste. Há quem chame a isto uma espécie de religião e, agora que assisti e me recompus deste concerto, percebo porquê.

Nick Cave and the Bad Seeds no MEO Kalorama

É difícil e ingrato escolher momentos altos dum concerto que foi tão especial como um todo e que, graças à sua duração e poder de catarse, quase nos fez esquecer que estávamos num festival (ainda) de Verão. Tentemos, destacando “Waiting for you” (Ghosteen, 2019), “Red right hand” (que muito público reconhece da série Peaky Blinders, e que pertence a Let Love In, 1994) e “Higgs Boson Blues” (Push the Sky Away, 2013), que mereceu uma especialmente teatral can you feel my heartbeat pah pah pah / just breathe.

Para o encore estavam ainda reservadas quatro músicas: com Nick ao piano começava “Into my arms” (The Boatman’s Call, 1997, música dedicada à memória de Beatriz Lebre), “Vortex” (B-Sides & Rarities Part II, 2021), a arrepiante “Ghosten Speaks” (Ghosteen, 2019) e, por fim, “The weeping song” (The Good Son, 1990).

Chet Faker no MEO Kalorama

Ainda o concerto de Nick Cave & The Bad Seeds decorria e já a colina que dá o nome ao palco secundário estava repleta. Era Chet Faker, stage name recentemente re-adoptado por Nick Murphy, que acabou por sobrepôr a sua primeira música com a última de Nick Cave – tratava-se de “Get high”. Nick Murphy apresentou-se sozinho em palco durante todo o concerto, mas acabou por ter um segundo elemento na sua banda: o público, que entoava a maioria das suas músicas.

À parte de excepções como a recém-lançada “It could be nice”, Chet Faker usou os cerca de 45 minutos de concerto para percorrer os seus êxitos mais orelhudos, como “1998” (Built on glass, 2014) ou “No Diggity” (Thinking in Textures, 2012). Dividindo-se entre a voz, a dança, a pontual guitarra ou teclado, e os ajustes electrónicos, Nick Murphy entreteve o público, guardando para o final a muito aclamada “Talk is cheap” (Built on glass, 2014). Apagava-se a vela do palco Colina.

Disclosure no MEO Kalorama

Pelas 00h45, o duo britânico Disclosure, constituído pelos irmãos Howard e Guy Lawrence, começou o último concerto do palco MEO. A maioria do público que ainda habitava o parque da Bela Vista usou este concerto para transformar a plateia numa pista de dança, ao som de êxitos como “F For You” ou “When a fire starts to burn”.

Voltámos ao palco Futura uma última vez para assistir ao concerto dos portugueses Club Makumba. A média de idades deste concerto era consideravelmente superior àquela que assistia ao concerto dos Disclosure. Segundo a banda, o quarteto teve “origem na parceria criada entre as guitarras de Tó Trips (Dead Combo, Lulu Blind, entre outros) e a bateria e percussões de João Doce (Wraygunn), a que se juntam agora o saxofone de Gonçalo Prazeres e o contrabaixo e baixo de Gonçalo Leonardo”.

Os Club Makumba apresentaram temas do seu álbum homónimo de estreia, assim como algumas que anteveem o próximo disco. As músicas têm um quê de raiva, nas suas repetições imersivas e também no seu experimentalismo.

Conquistar um público que genericamente não os conhecia assim tão bem poderia ter sido encarado como uma tarefa ingrata. No entanto, as intervenções de Gonçalo Prazeres e de João Doce, que por mais de uma vez se levantou do pódio da bateria para se dirigir ao microfone, provocando e incitando o público, foram chave para que a plateia ali presente batesse palmas, uivasse e, até, dançasse de uma forma quase tribal a última música antes do encore.

Tó Trips, imerso no transe das suas cordas durante todo o concerto, quebrou o silêncio para nos deixar a última mensagem da noite e, na verdade, desta primeira edição do MEO Kalorama: “ouçam a rádio futura” – nós prometemos continuar a ouvir.