O projecto “Conta-me uma canção” nasceu no ano transacto, com um conjunto de gravações intimistas disponibilizadas no YouTube, que emparelharam artistas nacionais consagrados. Nestas, para além de termos oportunidade de os ver interpretar canções do seu par, observamos conversas descontraídas, carregadas de empatia e admiração mútuas. Oito destes artistas foram desafiados a continuar este projecto em palco, na acolhedora sala do teatro Maria Matos, em Lisboa: Benjamim+ Samuel Úria, Mafalda Veiga + Joana Espadinha, A Garota Não + Sérgio Godinho, Rita Redshoes + David Fonseca.

A primeira das quatro noites aconteceu no dia 24 de Janeiro, pelas 21h, juntando em palco Benjamim e Samuel Úria, numa conversa regada com músicas que durou cerca de duas horas. Estes dois (não baladeiros) contaram-nos muitas histórias, sobre as suas músicas e os seus amigos, sobre como as suas vidas se cruzaram e continuam a cruzar.

Jogou a favor de Samuel, que mais vezes liderou a conversa, que a maioria do público não conhecesse a gravação que motivou este espectáculo. Recuperou os (sempre válidos) tópicos de como Luís Nunes (ou Benjamim) o contactou através do MySpace, como se conheceram com a ajuda do B Fachada, e também da viragem na música alternativa portuguesa das letras em inglês para as letras em português.

Conta-me uma canção - Benjamim + Samuel Úria

Em diversas ocasiões falaram-nos das suas experiências na escrita de canções. O que vem primeiro, a música ou a letra? A música com uma frase, responde Luís. Já Samuel relembra que escrevia primeiro letras, quando viajava muito de comboio, mas hoje geralmente começa pela música.

Se sentimos o semi-desconforto de ambos, ao passarem por histórias que provavelmente já contaram um ao outro mais de um par de vezes, falhou-nos a coragem de participar da conversa, mesmo quando convidados. Refugiámo-nos no conforto de os ouvir, simplesmente, e de apreciar o imprevisto mesmo no não improviso, da guitarra de cordas novas que teimava em desafinar, ou daquela nota mais aguda que trai mesmo o melhor falsete. Foi tremendamente especial por isso tudo.

Os olhares do público eram de admiração, de devoção, de um sentimento de privilégio por estar a assistir a este encontro de amigos de uma forma quase voyeur (esta, sim, palavra de origem francesa, ao contrário de mocassinos, palavra que aprendemos trazer muita frustração a Samuel). Talvez estivéssemos a replicar, ainda que inconscientemente, a empatia e admiração mútuas que observávamos em palco. De facto, ao longo das 13 (se as nossas contas não nos falharam) canções que compuseram o alinhamento, foram muitos os momentos em que apenas Samuel ou Luís interpretavam a canção, enquanto o outro observava embevecido, quiçá esquecendo-se de que nos tinham como companhia de sala. Voltariam a ter.

Obrigada, Luís e Samuel.

Alinhamento:

  1. “Barbarella e Barba Rala”, canção de Samuel Úria
  2. “Terra Firme”, canção de Benjamim
  3. “Essa voz”, canção de Samuel Úria
  4. “Jeremias, O Fora Da Lei”, canção de Jorge Palma
  5. “Vias de Extinção”, canção de Benjamim
  6. “Rosie”, canção de Fausto
  7. “Fel”, canção de Samuel Úria
  8. “Vem por mim”, canção de Samuel Úria
  9. “Disparar”, canção de Benjamim
  10. “A Contenção”, canção de Samuel Úria
  11. “Domingo”, canção de Benjamim
  12. “É Preciso Que Eu Diminua”, canção de Samuel Úria
  13. “Incógnito”, canção de Benjamim

Texto: Andreia Duarte
Fotografia: Joana Viana (@jo_viana)