No terceiro e último dia de NOS Alive fomos súbditos absolutos de Queens Of The Stone Age. Apaixonámo-nos pelo penteado despenteado de Angel Olsen, dançámos com Third Son de dia, e com RÜFÜS DU SOL de noite. Perdemo-nos no reino de King Princess e encontrámos tribo em Jesus Quisto.
Third Son
Joseph Price apresenta-se sob o nome Third Son, e é na house e no techno que tem a sua praia. A partir das 18h30 deste terceiro dia de NOS Alive agitou corpos no palco WTF Clubbing, apresentando algumas da sua extensa lista de produções a um público que não sabia necessariamente ao que vinha.
Para além de mixes no SoundCloud, Third Son tem dois álbuns editados: 20 Days (2020) e Retrograde (2021). O primeiro demorou exactamente 20 dias a concluir, daí o título. Já o segundo, debruça-se sobre obras de nomes como Radiohead, Moby, Daft Punk, Aphex Twin ou Nine Inch Nails.
King Princess
Simultaneamente, King Princess actuava no palco Heineken. Este é o stage name de Mikaela Mullaney Straus, cantora de Nova Iorque que se tornou conhecida em 2018 e se dividiu entre a voz e a guitarra. A orelhuda e quase suspirada “The Bend” pôs o público a cantar o refrão When I get over the bend, I’m overwhelmed again, again again, I’m seeing red.
O seu segundo álbum, Hold On Baby (2022) contou com a produção de Ethan Gruska (The Belle Brigade), Aaron Dessner (The National), Dave Hamelin e Mark Ronson. O álbum apresenta ainda contribuições de Justin Vernon (Bon Iver) e Bryce Dessner (The National).
Enquanto bebia uma Heineken, Mikaela partilhou ter gostado bastante da sua estadia por Lisboa, usufruído da praia e outras experiências. À semelhança de Sylvan Esso, interrogava-se como demorou tanto tempo até nos visitar.
“1950”, o seu single de estreia, estava reservado para última música.
Angel Olsen
Ao terceiro dia, fazia-nos muita falta o embalo de Angel Olsen, que subiu ao palco Heineken pouco depois das 20h e nos derreteu com “Ghost On” como segunda música. Se já estávamos apaixonados pelo seu penteado despenteado, reapaixonámo-nos pela queridinha “Shut Up Kiss Me” – que Angel anunciou, tentando disfarçar o sorriso, como uma nova canção que tinham ensaiado um par de vezes.
A tela por detrás da banda passou imagens campestres durante todo o concerto, perfeitamente alinhadas com a tranquilidade e o delicodoce da mistura de guitarra e baixo. Uma introvertida por natureza, Angelina Marie Carroll (de nascença) dedicou-se enquanto adolescente ao punk, mas foi no folk e no soul que encontrou o seu meio. Já lançou seis álbuns em nome próprio, sendo o mais recente The Big Time (2022). Foi precisamente este o álbum que pautou o concerto, preenchendo seis das dez posições do alinhamento. Sobre a mais antiga, “Sister”, Angel prometeu que duraria 25 minutos – não durou, foi na medida certa.
Angel Olsen proporcionou o concerto mais delicado que observámos ao longo dos três dias de festival, e teve uma plateia bastante ampla e diversa. Que namoro.
Queens of the Stone Age
Minutos antes das 21h15 soaram os primeiros acordes da icónica “No One Knows”, às mãos dos Queen Of The Stone Age (QOTSA). Vemos nesta escolha um enorme sinal de maturidade da banda, que demonstrou estar numa forma absolutamente incrível e nos relembrou de que é feito o rock’n’roll – rebeldia e vernáculo incluídos. Por falar nisso, não é novidade nenhuma que Josh Homme (agora em modo silver fox) é uma força contagiante em palco. Nesta noite a sua atitude irreverente viveu lado a lado com um sorriso genuíno bastante frequente, interacções lascivas com o público e os colegas de banda, e a expressão de quem está absolutamente realizado com o que faz. Esta expressão prolongava-se no seu gingar característico de cabeça, nos pés irrequietos, na expressividade que vai do bigode até à ponta dos dedos.
“The Way You Used to Do” foi apoteótico e, na ressaca desta, Josh deixou uma mensagem enigmática de que “não queria saber do resto do mundo, queria estar connosco, como uma serpente ao lado do rio” – era “If I Had a Tail” que se seguiria. Em “Make It Wit Chu” a banda deu espaço à rebeldia desta feita do público, que cantava incessantemente o conhecido refrão. A apresentação dos elementos da banda serviria de mote para “Emotion Sickness”, dedicada ao baixista aniversariante.
O concerto teve cerca de 65 minutos e 12 músicas apenas, o que resultou num concentrado bastante intenso e com pouco espaço para explorar In Times New Roman…, álbum editado há menos de um mês. “Go With The Flow” e “A Song For The Death” foi o par de músicas que fecharam o set. A última fez-se esperar na sedução, no suspenso do topo da montanha russa, para explodir em mosh pits no público e em riffs inebriantes. Sentimos que cada um dos elementos da banda deu tudo de si neste concerto. E o público também.
Jesus Quisto
Designados na RTP como cabeças de cartaz do palco Fado Café Stage, os Jesus Quisto proporcionaram o momento insólito que não sabíamos que precisávamos. Nós e a enchente de fãs que preencheram as proximidades do palco antes da hora marcada, 00h35.
Os Jesus Quisto são a (não) banda sensação da série da RTP “Pôr do sol”, uma séria de comédia dramática e sátira que acompanhou os dois últimos dois Verões. É um caso insólito e merecido de popularidade e regressará em formato filme no próximo mês. Foi sob esse mesmo mote que os Jesus Quisto deram um “concerto”, em playback pouco disfarçado, e com muitas intervenções inspiradas nas personas da série. Não nos levemos demasiado a sério, que eles também não.
RÜFÜS DU SOL
É bastante especial quando as plateias se transformam em pistas de dança a céu aberto. Foi precisamente isso que aconteceu no encerramento do palco NOS, com RÜFÜS DU SOL, depois da uma da manhã. O trio australiano é formado por Jon George, James Hunt e Tyrone Lindqvist, que partilha desde 2010 uma paixão por música electrónica ao vivo, com inspirações como The Chemical Brothers e Royksopp.
RÜFÜS DU SOL apresentaram-se numa plataforma elevada, onde os vultos dos três sobressaíam na escuridão, equidistantes entre si. Nesta sua primeira presença em Portugal demonstraram competência e passaram por alguns dos seus maiores êxitos, como “You were right” ou “On My Knees”.
Pelo meio de efeitos visuais e confettis sobre o público, Tyrone chamou-nos a atenção para a Lua atrás de nós, embevecido. A letra If you want me if you need me, I’m yours, de “Innerbloom” foi uma quase prece por Tyrone, de cabelos ao vento.
A mensagem final foi de “No Place” e encaixa que nem uma luva no fecho do festival There’s no place I’d rather be.
A Punch Magazine participou nos três dias de festival NOS Alive ’23. Acompanhem-nos nas reportagens do primeiro e segundo dias.
O NOS Alive ’24 acontecerá dias 11, 12 e 13 de Julho, e ainda não tem artistas anunciados.
Texto: Andreia Duarte
Fotografia: Everything Is New | José Fernandes